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Parada Essencial

Benvindos ao "Diário politicamente incorreto da Pâmelli" - uma brasileira/americana childfree, residente nos E.U.A. desde 2003 Viagens, cultura, desabafos e muito mais!

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O Brasil no 'The Economist'

Pâmelli, 18.11.09

 

Esta semana a capa da revista 'The Economist'  mostra a estátua do Cristo Redentor com sua base pegando fogo - assim como se fosse um foguete prestes a decolar.

 

A reportagem sobre o Brasil cobre 14 páginas e é bastante interessante -  e verdadeira.

 

De fato,  toda vez que  ouço alguem me dizer que o Brasil está indo muito bem e será a nova 'Grande  Potência do Futuro...' ,  não consigo  evitar  de sentir um calafrio - uma espécie de reação  automática que me passa pelo corpo,  como que dizendo:   Heim?  Says who??

 

É que quando penso em uma 'Potência Mundial'  -  e talvez minha definição pessoal de 'potência' não tenha nada a ver com a realidade...- imediatamente me vem a mente um país desenvolvido,  com  a maioria de suas estradas asfaltadas, onde raramente se ouve falar em assaltos dentro ou fora das cidades,  oferecendo educação gratuita e TÃO BOA  aos seus cidadãos, que raramente alguem ( mesmo alguem extremamente bem de vida !)  pensa em mandar seu filho para  uma escola particular;  um país com um sistema de saúde público excelente  ,  com as ruas de suas cidades  limpas e livres de pedintes e crianças abandonadas,  onde favelas são coisas que só se vê em  'cartões postais' de OUTROS países;  um  lugar  onde pessoas ricas e importantes TAMBEM vão presas e  onde  os políticos têm vergonha de roubar,  ou pelo menos MEDO de serem pegos!

 

Então,  analisando o  calafrio involuntário que costumo sentir em tais ocasiões  ,  sou obrigada  a chegar  a conclusão de que essa reação física  que experimento,  nada mais é  do que um  misto de  tédio, incredulidade, ceticismo ...  e talvez lá no fundo,   uma pontinha de esperança.

Mas logo as imagens de minha última estada ( geralmente de poucas semanas ou meses atrás ...)  no Gigante do Sul me vêem a mente como em um flashback desagradável  e,   assim como um balão de ar  picado por uma agulha,  estouro, murcho e é como se jamais tivesse existido. 

 

 

Mas voltando à reportagem que fala  sobre  o Brasil no 'The Economist'  desta semana...

Fazia tempo, muito tempo ,  que não lia algo tão claro, objetivo e sem falso sentimento de patriotismo ,  mas ao mesmo tempo com uma mensagem de esperança e otimismo.

Gostei especialmente da parte onde  o autor compara os Estados Unidos e o Brasil , no que cada país tem de parecido e diferente.  E da parte onde descreve o  Gigante do Sul  como sendo DOIS países separados:  1)   Um lugar  onde não há guerras,  onde se fala a mesma língua em todo  o seu imenso território,  onde não há conflitos religiosos, onde 1/3 da população vota (  mas cá entre nós,  sabemos que somos  OBRIGADOS a fazê-lo, não ? ) e onde o resultado das eleições sai no dia seguinte;  um país com um mercado financeiro sofisticado e com uma coleção cada vez mais crescente de companhias nacionais  de importância mundial   (Embraer, Petrobrás, Vale do Rio Doce, Odebrecht etc...)

2) O outro  Brasil é aquele com um número altíssimo de assassinatos ( 45,000 mil por ano)  e uma polícia  truculenta;  um em que muitos ( a maioria?)  dos seus políticos não vêem nada de mal em roubar e se recusam a renunciar quando são pegos com a boca na botija.  Um lugar onde 17% das casas não têm água corrente e onde milhões de pessoas  vivem em barracos no meio de  favelas.  Um lugar onde muita gente condenada por crimes hediondos ( muitos inclusive réus confessos , como é o caso do Sr. Pimenta  Neves...) nunca vai presa  e , por fim,   um lugar onde ocorre diariamente uma das maiores devastações ambientais .

 

Last but not least... O artigo do 'The Economist ' dá crédito àquele  personagem na história recente do Brasil,  VERDADEIRAMENTE  responsável por 'todo este atual milagre econômico'   - 'milagre' aliás, que só foi possível ocorrer graças à estabilização da economia com a  adoção do Plano Real em 1994 ;  aquele que , com sua troupe de experts econômicos , conseguiu   transformar um país com uma moeda completamente desmoralizada e inexistente no mundo lá fora e uma inflação com média anual de  764% entre 1990 e 1995,  no que  temos hoje : Um país com uma moeda forte e respeitada mundialmente e com uma  inflação anual na faixa dos 6% ( 5,9% em 2008)

Em suma,    aquele que deixou esta 'herança bendita'  para o  atual governo : 

Fernando Henrique Cardoso.

( Sim,  quem tinha pelo menos 20 anos em 1994,  se lembra  de um Brasil MUITO diferente deste que temos hoje em dia !!) 

 

Mas pra mim,  talvez a frase mais interessante  e a que resume melhor tudo o que foi dito ao longo da reportagem da revista  sobre o Brasil , seja esta: 

"Judged against its own past, Brazil is doing astonishingly well.  Judged against its potencial, it still fares poorly.'

( A julgar pelo seu passado , o Brasil está se saindo incrivelmente bem.  A julgar pelo seu potencial,  ele ainda está indo muito mal...'

 

 

Então,  PARABÉNS   'The Economist' ! - por um artigo tão bem escrito, informativo e  cheio de insight.

No futuro, quando ouvir novamente algum estrangeiro ( os brasileiros que conheço  costumam ser mais pessimistas...)  me dizer  ' Poxa,  ao que parece , o Brasil está mesmo indo muito bem e será uma das grandes potências nos próximos anos!' , é  possível que ao invés de sentir  um calafrio  me correndo  pela espinha,  eu apenas abra os olhos e levante as sobrancelhas numa ligeira expressão de incredulidade misturada à um certo  cinismo -  mas nem tanto.