O Novo Normal : Quando ir à praia virou "crime"...
Faz cerca de duas semanas que, devido a pandemia do Corona vírus, fecharam oficialmente todas as praias em Saint Augustine, no condado de St. Johns, aqui no norte da Flórida (E.U.A.)
Difícil. Muito difícil.
Pessoalmente, acho a medida muito injusta, além de hipócrita – pois, afinal, quem tem barco próprio ou uma casa de frente para o mar, continua podendo curtir as praias normalmente, não é?
Ou seja: só mesmo o “Zé Povinho” ( tipo Eu...), é que ficou, de fato, proibido de pisar na areia e nadar no mar!
Porém... Como brasileiro dá sempre o seu “jeitinho”, (mesmo uma brasileira/americana, residente nos E.U.A. há quase vinte anos...), descobri um pedaço de terra ( na verdade, um terreno de frente para o mar, ainda desprovido de qualquer construção), dentro de um condomínio de luxo, e que, por alguma razão misteriosa, não tem qualquer controle ou barreira na entrada.
(Fosse no Brasil, com certeza o lugar teria no mínimo uma guarita; um guarda ou vigia controlando o acesso dos não residentes ao local!)
Anyway....
Este pedaço de terra, na praia, está à venda por “apenas” $1.000.000 de dólares. Vive vazio, e por lá , só o que se vê são umas placas de “warning” do tipo : “PRIVATE PROPERTY FOR SALE” e “NO TRESPASSING” para assustar e impedir o pessoal de invadir a área.
De cada lado do terreno há uma mansão, (naturalmente com vista para o mar...), mas ambas parecem vazias. Ou estão todos confinados dentro de casa; ou os donos são de fora (talvez de Nova Iorque ou algum outro estado no norte...) e ainda não vieram para sua casa de praia na Flórida. (Agora só Deus sabe se jamais voltarão!)
O fato é que nestes tempos de pandemia, e com a proibição de frequentar as praias, ao menos duas vezes por semana, eu dou a minha escapulida até lá ----as vezes de carro, as vezes de bicicleta.
Quando vou de carro , estaciono o veículo do lado de fora do condomínio ( pois dentro não tem onde estacionar) e caminho uns dez minutos até o meu “point”. Quando vou de bike, entro no condo pedalando e a amarro em uma árvore por perto. ( Meu próprio condo fica há uns dez minutos de carro dali; do outro lado da ponte que nos leva à ilha, onde ficam as praias...).
Uso sempre o biquini escondido debaixo do short e camiseta e assim, circulo por lá como se fosse uma moradora, fazendo meu exercício diário ( o que ainda é permitido por aqui...).
Pois bem.....Quando chego ao meu “point” proibido, primeiro olho para todos os lados para me certificar de que não há mais ninguém por perto. Então, como se fosse uma criminosa fugindo da polícia, corro em disparada através do terreno em direção à praia. Naturalmente, ignoro todas as placas de “No Tresspassing” e “Private Property” , os avisos e as ameaças de processo por invasão à propriedade. Por fim, quando chego na areia, me escondo parcialmente debaixo do único coqueiro que por ali se encontra, coloco meus sapatos de água e... SPLASH! Mergulho naquela água límpida, azul turquesa, refrescante e cheia de “good vibes”. E lavo o corpo e a alma.
Xô Corona! Xô desânimo!
Alô saúde! Alô energia! Alô esperança!
Ali, em frente, do outro lado da baía tem o monumento da Cruz ( o local onde foi rezada a primeira missa nos E.U.A. , na cidade mais antiga , a nossa Saint Augustine, fundada em 1565...). Então, já de volta ao meu coqueiro, eu faço uma rápida “reza” ( não sou religiosa, mas “espiritual” ), pela nossa cidade, pelo nosso querido estado da Flórida, pelo nosso país e todo o mundo também.
Ali, diante do mar, olhando aquela cruz imensa e parcialmente escondida debaixo do meu coqueiro, eu faço a minha ‘mentalização Silva Mind” e peço para que descubram logo uma cura ou uma vacina eficaz contra este vírus dos Infernos.... --- e, confesso, também “rezo” para que o carro do Xerife já tenha feito a sua ronda diária do bairro e das praias e não me encontre por ali, uma vez que estou infringindo a lei duplamente: 1) Indo à praia e 2) Invadindo um terreno particular.
Ao todo, este meu “ritual” não leva mais do que 15 minutos, embora eu pudesse ficar no local uma manhã ou tarde inteira. Porém, não quero que me descubram ali e que um officer acabe me dando um “warning”, fazendo com que depois eu não possa mais voltar, sob pena de ser presa.
Enfim... Este, é o meu momento de sanidade; o meu “novo normal”. Isto, é Abril de 2020.
FELIZ PÁSCOA à todos.
Stay safe and above all, Stay Sane.
Isabela Pamelli Martins (Autora dos romances: “Copadrama- Uma Tragicomédia Brasileira”; “Paris, Mon Amou- As memórias de uma jovem brasileira na Cidade Luz” e “Bye Bye Brasil – Histórias de Imigrantes Brasileiros na Era Trump” (Disponíveis em Kindle e Paperback, pela AMAZON)