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Parada Essencial

Benvindos ao "Diário politicamente incorreto da Pâmelli" - uma brasileira/americana childfree, residente nos E.U.A. desde 2003 Viagens, cultura, desabafos e muito mais!

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Aprendendo línguas estrangeiras

Pâmelli, 10.11.08

 

A BERLITZ  foi a primeira escola onde comecei a ensinar inglês. 

Isso já faz mais de vinte anos! ( 1986)

 

 O curso  tem  130 anos de história e tradição ( foi fundado em 1878 , em Rhode Island , USA )  e seu método de ensino  é portanto o pioneiro de todos os outros. 

A coisa interessante sobre o método Berlitz é que além de dinâmico,  ele tambem é eficiente e divertido - tanto para o aluno quanto para o professor.  A ênfase é dada principalmente na parte de conversação e pouco se ensina de gramática .  Traduções são evitadas ao máximo - algo que só é possível com o método da Berlitz , que , quando devidamente aplicado,  faz com que seja possível  desde o primeiro dia de aula,  que o aluno apenas ouça, fale e escreva na target language - ou seja, na língua que  ele está pagando para aprender!

 

Ao todo trabalhei em quatro escolas Berlitz - no Brasil ( Rio de Janeiro),  em Portugal ( Lisboa), na Alemanha ( Berlim) e atualmente nos E.U. ( Austin), onde resido.

As escolas onde ensinei tinham muitas similaridades mas tambem muitas diferenças. 

A maior diferença que notei foi quando cheguei na Alemanha ( após ter trabalhado no Brasil e Portugal) e percebi que  os professores lá eram TODOS native speakers - ou seja,  nativos da língua que ensinavam.  Em outras palavras:  os professores de inglês eram  americanos, canadenses ou ingleses;  os de francês,  franceses;  os de português,  portugueses ou brasileiros e assim por diante...

Foi com um grande assombro que a diretoria foi informada de que nas outras duas escolas onde eu havia ensinado ( no Rio e em Lisboa) ,  eu não apenas dava aulas de português ( minha língua nativa) mas tambem de inglês e francês . ( Logo alemão , que é super rígido e não tem a menor imaginação ou  flexibilidade!!)

Mesmo assim,   já que  eu vinha com uma carta de recomendação tanto do diretor no Brasil quanto da escola em Portugal,  resolveram abrir uma exceção e me aproveitar como professora destes três idiomas  na escola em  Berlim.   Afinal,  não tendo sotaque estrangeiro em inglês ( já que estudei a vida toda em escola americana no Brasil...) e muito pouco em francês ( tendo me formado na Aliança Francesa e depois passado um ano na França...) , além de conhecer o método muito bem,   ( estávamos em 94,  portanto eu já era 'veterana' na Berlitz há quase dez anos...) , concluíram que eu estava mais do que qualificada para ensinar  as três línguas na filial alemã.

 

É interessante que muitas pessoas pensam que os melhores professores têm de ser obrigatoriamente  native speakers

Isto é um grande engano - embora, ninguem vá negar que seja uma vantagem à favor do professor.

Mas se me perguntarem o  que vale mais :  um professor nativo , com pouca experiência e um método de ensino ineficiente ou um que não seja nativo ( mas , evidentemente ,  que fale  a língua  com desenvoltura e  com pouco ou quase nenhum sotaque)  ,  experiente e com um bom método de ensino...Eu lhes digo:  não pense duas vezes em  escolher  o segundo!

Você vai aprender muito mais,  muito  mais rápido e de maneira muito mais gostosa  :-).

 

 

Me lembro de um episódio divertido  que ocorreu na escola do Rio na época em que trabalhava lá:

Certa manhã,  a professora de francês  ligou em cima da hora dizendo que não poderia comparecer à aula.  A diretora entrou em pânico uma vez  que a aluna já se encontrava  a espera , na recepção .  ( Nota:  a Berlitz é o curso mais caro que há e muitos dos seus alunos são gente de  muito dinheiro e/o prestígio - presidentes, diretores de empresas etc...-  , ou seja ,  o tipo de pessoa que 'se frustra com certa facilidade...' :-)) 

Foi então que  a diretora  teve uma idéia!

Uma das professoras mais experientes  da escola , que ensinava inglês e espanhol , tambem falava francês. ( Não tinha o conhecimento do idioma ideal para ensinar a língua,  mas falava bastante bem ,  com boa pronúncia e fluência razoável...).  Naquele dia esta professora se encontrava na escola e seu aluno havia acabado de ligar  cancelando a aula de última hora.   

O que fez a diretora?  

 Você acertou.  Ela deu o seu famoso 'jeitinho brasileiro' :

Pediu  à professora  de espanhol que  ' lhe quebrasse aquele galho'  naquele dia e desse uma aula de francês.    Afinal  o método de ensino é exatamente o mesmo para todas as línguas e a aluna  era de nível iniciante (  quer dizer,  ainda estava aprendendo coisas como  ' Le livre est sur la table...' :-))).  Em outras palavras:  era muito pouco provável que percebesse que a professora substituta não era na verdade uma das professoras de francês da escola.   Bingo!

A única coisa que a diretora não contava era que , ao final da aula,  a aluna saísse da sala direto para seu escritório e lhe pedisse dalí por diante para ter aulas APENAS COM A NOVA PROFESSORA!  lol

 

O que significa isto? 

Simplesmente que a professora de espanhol era muito melhor do que a de francês ;  que provavelmente conhecia e  aplicava  o método da escola  de maneira muito mais eficiente  ( e provavelmente divertida!)  que a outra.   E  é claro,  como tinha boa pronúncia , a aluna iniciante não percebeu que a professora substituta  não tinha o mesmo domínio do idioma  que professora oficial.

Bom,  o que sei é que  no final a diretora acabou tendo de inventar uma estória para a aluna e disse que a nova professora  'não costumava trabalhar naquele horário'  e que portanto não estaria disponível para lhe dar aulas no futuro...

  Afinal o que ela não podia fazer era lhe contar a verdade ! lol

 

 

Agora comigo,  recentemente  aconteceu uma coisa parecida. 

 

Nos Estados Unidos , assim como na Alemanha ( e é possível que hoje em dia em Portugal tambem , já que faz mais de 15 anos que trabalhei na escola em Lisboa e desde então os salários em Portugal já devem  ter ficado bem próximos daqueles dos países com o estilo de vida mais elevado...) ,  todos os professores na Berlitz são native speakers

Sendo assim,  desde que vim para cá em 2003,  tenho apenas ensinado português na escola local .

 

Acontece que certo dia,  há coisa de uns quatro meses atrás,  a diretora  me ligou e disse o seguinte:

- Pamelli,  vejo na sua ficha que você dava aulas de inglês e francês tambem nas outras escolas Berlitz onde trabalhou.  Você poderia dar uma aula de francês amanhã?  A aluna está no primeiro livro mas é uma pessoa bastante exigente e difícil.

 

No problem,  pensei.  Neste últimos 22 anos de Berlitz,  não foram poucos os abacaxis que tive de descascar por aí afora...

 

No final das contas a aluna não era nenhum bicho papão.

Simplesmente uma senhora americana já de uma certa idade ( 65) , naturalmente com mais dificuldade que o normal ( devido à própria idade) ,  meio controladora (  ela quer checar todos os pontos ensinados pelo professor no manual...:-))) e principalmente....muito insegura.

Pelo que entendi,  as professsoras de francês que me precederam ,  estavam fazendo-a sentir-se ainda mais insegura e incapaz - corrigindo-a o tempo todo e quase não lhe dando a chance de tentar se expressar. 

A aluna,  apesar de ser bastante esperta e inteligente ( inclusive é uma  empresária muito bem sucedida!)  ,  apresentava  enormes dificuldades de aprendizado ( prova de que o método não estava sendo bem aplicado) e  consequentemente a cada aula  se tornava  mais insegura e frustrada.  Pior:  Já pensava em deixar a escola e desistir !

( Foi aí que resolveram recorrer à mim  -  a professora non-native-speaker -  como última esperança...:-))

 

A comédia veio após a aula:

O aluna seguiu para a sala da diretora e lhe disse que dalí em diante apenas queria ter aulas comigo.  Estava sorridente e radiante!

Ninguem entendeu nada mas como 'o cliente que paga caro deve ter sempre razão...'  , não houve discussão.  A partir dalí tornei-me a professora oficial de Mrs. G.  e  desde então já fui escalada para dar novas aulas de francês na escola.

 

Isto foi por volta de julho passado. 

Mrs .G. tem progredido bastante  , principalmente no que diz respeito à sua fluência.   Seu vocabulário é excelente e eu a corrijo sempre que  ela erra na gramática ou na pronúncia -  mas sempre com 'jeitinho' .  As aulas são divertidas e descontraídas -  assim como o verdadeiro espírito da Berlitz.  

 Minha aluna,  que é uma mulher muito bem tratada ( imagino que deva ter sido muito bonita quando jovem...) outro dia apareceu na escola e me trouxe  de presente  uma bolsa de maquiagem da Neuman Marcus (  a loja de departamentos mais metida que há nos E.U.!) , cheia de produtos caros  de beleza . :-))

 

 A conclusão?

 

Não há nada  que supere um bom método e  um professor experiente.

Nem mesmo a condição privilegiada de ser um native speaker...

 

 

O universo das línguas

Pâmelli, 07.05.08

 

Aprender uma língua estrangeira é sempre uma experiência enriquecedora.  Pode tambem ser divertido, estimulante, além de nos proporcionar a ocasião de descobrir novas culturas,  novos horizontes, novas mentalidades e costumes.  É tambem uma forma de nos reinventarmos; de 'soltarmos' um outro lado nosso e de nossa personalidade.

A pessoa que domina mais de um idioma sabe que a pessoa que ela é ao falar 'inglês' , por exemplo,  não é a mesma que quando fala sua língua nativa ou ainda uma terceira língua , tal como o francês ou o alemão. Isto porque quando uma pessoa chega a dominar um idioma,  isto significa que ela já incorporou tambem algumas características do povo , do país e da cultura que FALA aquela língua!  Em outras palavras,  alguém que fala francês fluentemente,  com certeza já adquiriu , ao longo do seu aprendizado daquele idioma,  uma certa 'personalidade francesa' : o que significa que ela provavelmente desenvolveu   - se é que já não tinha...- um certo gosto e conhecimento sobre arte, gastronomia, história e talvez,  vinhos...

  Uma  pessoa que domina a língua inglesa -  seja no caso do inglês americano ou do inglês britânico...- ,  com certeza já adquiriu uma certa polidez e amabilidade na sua maneira de se expressar ( coisa bem menos comum na maioria das culturas latinas, que costumam ser mais grosseiras e diretas...).   Na Inglaterra , por exemplo,  até as placas e avisos de interdições em lugares  públicos são educadas;  não dizem simplesmente " Don't Smoke"   ( Não fume)  ou 'Forbidden to smoke'  ( Proibido fumar)...  -  palavra aliás, adorada dos alemães ( Verboten!) -  mas geralmente dizem:  " PLEASE ,  do not smoke in here..."  ou  " Thank you for not smoking".

  

Me lembro certa vez quando tomei um ônibus ( um daqueles double deckers vermelhinhos e tão tipicamente britânicos  :-))  em Londres e ,  a um certo momento,  ao virar-me para a senhora ao meu lado ,  comecei com ..."Excuse-me..."  ( queria lhe pedir para me avisar quando chegasse ao ponto onde pretendia descer...)  e ela,  antes mesmo de me deixar terminar a frase,  disse:  " Yes,  dear? "  (  Pois não , querida...).

Ah,  como são deliciosamente polidos os ingleses! 

 

Ainda outra expressão tão tipicamente inglesa é o 'Do you mind '... ( Você se incomoda...?)

Adoro isso!

Antes de abrirem ou fecharem uma janela em um ônibus , por exemplo,  o costume entre os anglo-saxões  é dizer : "Do you mind if... ? "   

 ( E o brasileiro que vai logo esticando o braço diante do seu nariz e escancara a janela com o vento direto em cima de você ,  sem dizer NADA  -  muito menos perguntar se isto vai lhe incomodar!!)

Os ingleses ou americanos,   quando se engasgam ou   pigarreiam  no meio de uma frase , imediatamente dizem   'Excuse-me" - que na verdade é um pedido de desculpas e não de licença.

Isto me lembra de um episódio que uma amiga certa vez me contou. ( a mesma que estava no carro comigo no Rio aquela vez que eu saltei no meio da rua diante de uma ameaça de assalto ...:-))   -Ver post sobre o "Rio , ou a cidade do absurdo..."

Durante uma visita que fez à Londres,  um dia quando se encontrava sozinha em uma estação de metrô,  meio perdida ,  resolveu parar diante de um mapa da cidade  ( que se encontrava na plataforma....) a fim de se orientar. 

 

-De repente , estou eu lá, parada,  concentrada olhando aquele mapa,  com a testa meio franzida..., quando ouço uma voz  masculina me perguntar:  "Lady,  are you lost?" ( A senhora está perdida?) Imagina a minha surpresa ao me virar e topar com um londrino super elegante,  de terno e gravata , por debaixo do seu trench coat  ' à la Humphrey Bogart...'   E ainda por cima me  chamando de 'lady'  e querendo saber se eu estava perdida! 

 

Depois  ela ainda completou:

 

- E aqui no Brasil, heim?  Já posso bem imaginar o que teria escutado. 

"E aí , gostosa,  tá precisando de ajuda?  Tesão!   "  

 

Isto,  se alguém não lhe afanasse a carteira primeiro...

 

 Mas voltando ao assunto das línguas...Me lembro quando ainda morava no Rio e dava aulas de francês e inglês para brasileiros.

Certo dia,  um aluno particular que estudava as duas línguas comigo já há algum tempo ,  me disse:

 

-Você é muito mais charmosa quando dá aulas de francês do que de inglês...

 

Não era uma cantada mas apenas a constatação de um fato.  Afinal,  a maioria das pessoas concordaria que a língua francesa é de fato muito mais charmosa, feminina, sexy e romântica do que a inglesa. Mesmo durante uma aula!!

 

Já o oposto tambem pode ocorrer.

Me lembro logo que cheguei à Alemanha com meu primeiro marido,  que era alemão e com quem eu só falava inglês... Certa vez ,  (  pouco tempo após ter chegado em Berlim,  e  tambem no metrô ...) ,  eu  percebi um homem se dirigindo à uma senhora já  de idade ,  em um  tom muito agressivo , ao mesmo tempo que  gesticulava bastante.  

 Pensei:

"Nossa,  coitada.  O que pode a velhinha ter feito de tão grave para deixar esse homem tão zangado...?"

Como não falava alemão,  eu não podia entender nada do que ele lhe dizia mas estava claro  para mim que ele  estava  lhe 'passando o  maior pito'  .

Então de repente ouvi quando a senhora lhe sorriu e disse uma das poucas  frases  que eu  então conhecia na língua de Goethe:

 

-Danke schön.  Auf Wiedersehen!    ( Muito obrigada e até logo...)

 

Imagine!  Aquele homem,  que me pareceu tão agressivo e zangado ,  estava simplesmente lhe explicando como chegar à algum lugar!! Tal é a 'delicadeza'  e 'musicalidade'  da língua alemã... :-)))

 Enfim,  acho tudo isto bastante interessante e divertido.

 

Finalmente , com o português do Brasil ( que os portugueses gostam de chamar de 'brasileiro' ...) e o português original  de Portugal é a mesma coisa. 

Um é mais sério,  mais 'clássico' e formal.  Assim como os europeus...

O outro é mais leve,  mais bagunçado ,  mais musical e divertido.  (  Como os brasileiros...)  Peca pela gramática , mas  muitos concordam que é gostoso de se ouvir.

 Pessoalmente penso que os dois têm os seus atrativos e vantagens - além de refletir a cultura,   a história e influência  na língua sofrida por  cada país.

No  Brasil , por exemplo , existe a forte influência africana, italiana , indígena etc. no idioma . ( Nós não dizemos ' fruto da paixão'  ou 'ananas'  e sim 'maracujá'  e 'abacaxi'  - indígena! - .  Não dizemos  'adeus' tampouco , e sim , 'Tchau'  ! ( do italiano , Ciao...)

Já  em Portugal a influência francesa na língua  é bem mais clara  , como em palavras como ' rez do chão'  ,  ' verniz  de unhas '  e 'autocarro '   (  rez de chaussée,  vernis à ongles e autocar , em francês...) , entre tantas outras ,  o que no Brasil chamamos de ' andar térreo' , esmalte de unhas e ônibus... 

 

No final das contas,  tudo é língua,  é cultura,  é vida.   E tudo é tambem uma questão de gosto pessoal  pois sempre haverá pessoas que acharão  o inglês britânico mais bonito que o americano ou vice versa;  o francês quebequense menos musical e charmoso do que o francês original;  o alemão austríaco ainda mais feio que o alemão da Alemanha e o  falado na Suíça alemã  praticamente ininteligível!  Tudo vai depender do lugar onde se  nasceu e onde  se aprendeu a língua,  assim como   de sua experiência de vida e mentalidade.

 

Por que algumas pessoas preferem peixe à carne?  Por que algumas não gostam nem de uma coisa nem de outra?   Quem está certo ou errado?  Tudo depende de com quem  você esteja falando.  Um gaúcho com certeza vai dizer que uma pessoa que não gosta de churrasco só pode ser doida  ou doente;  já um vegetariano de carteirinha , vai dizer que quem come carne certamente acabará  doente algum dia!!  

A verdade é que   a única coisa certa,  é que  VOCÊ É A LÍNGUA QUE FALA . ( Pelo menos no momento em que a  esteja falando...:-)) 

 Por isso talvez não seja má idéia  aprender  a dominar  mais de um idioma.

 Nem que seja somente para não cair na rotina...