Aviso aos navegantes: Se você é o tipo de pessoa meio puritana, religiosa ou desprovida de senso de humor e a capacidade de rir de si mesmo, recomendo que pule este post e espere até o próximo – que será sobre Washington ( onde eu estive neste último final de semana) , e que alias, terá muitas belas fotos. Contudo, terá de aguardar alguns dias até eu ter novamente o tempo de vir aqui para postar
Introdução: Às vezes parece que Deus está “ lá em cima”, simplesmente criando situações para se divertir às nossas custas. De fato, o Cosmo parece um lugar bastante chato, solitário , escuro… , e um pouquinho de diversão de vez em quando deve ser mais do que bem vindo!
O post de hoje simplesmente PRECISA ser escrito. Afinal daqui há alguns anos, talvez num dia chato e chuvoso ,quando estiver me sentindo meio só ou entediada, quem sabe eu não queira me lembrar desse dia. Então só o que terei de fazer é vir até o Parada Essencial e procurar nos tags “Vida” ou “diário” e reler este pequeno capítulo da minha estória. Será como assistir à uma cena de um "clássico" WoodyAlleniano…
Background:
Ok, vejamos por onde começo…
Como mencionei acima, no final de semana passado seguimos mais uma vez para o estado de Maryland, na costa leste, para irmos ao casamento do sobrinho de meu marido.
A cidade onde ficamos se chama Columbia e fica a uns 40 minutos de Baltimore, onde meu marido cresceu. Já o casamento mesmo, foi em uma cidadezinha no campo chamada Westminster . Um charmoso, embora despretensioso, “marriage à la campagne”…
Naturalmente, como sempre faço quando vou para aquelas bandas sem graça de Columbia ( é lá que moram o meu sogro e sua segunda mulher), dou minha escapulida , nem que seja de um dia, até Washington - pois a capital americana fica a cerca de uma hora e meia de ônibus de lá e, believe me, o sacrifício VALE A PENA. ( Mas deixemos esta parte da viagem para o próximo post…)
Bom, então aí vai o resumo da minha “aventura” na terra dos puritanos - pois afinal, Maryland está a um passo de New England, que é a verdadeira “terra dos puritanos” na América!
O Casamento:
Então, a cerimônia saiu como o previsto; num final de tarde de sábado, seguida de jantar e festa. O evento se deu em uma casa no campo, bastante espaçosa e confortável – estes tipos de casas que se alugam para eventos . O jantar foi no estilo buffet, com uma comida simples mas digna, e a decoração do ambiente toda em branco e roxo . Nada de muito glamoroso , já que não se tratava do casamento de pessoas de posses. Contudo, tudo foi muito decente, com uma simplicidade delicada e até um certo toque romântico, já que foi a própria noiva quem preparou toda a decoração e os enfeites das mesas. Imagine!
Após a festa:
Já passava das dez da noite quando pegamos o carro e voltamos ao nosso hotel em Columbia, cerca de uma hora dali. No caminho, lembrei ao meu marido que estávamos sem o nosso “gelzinho sexual” , lol – sim, eu estou falando de KY! Pois é, esquecemos de levar.
-Paramos numa farmácia ao chegarmos em Columbia…- disse ele.
Well, guess what…. Columbia NÃO TEM UMA FARMÁCIA! E olha que estávamos hospedados no Sheraton, que é bem no centro de tudo, inclusive do Mall. Ok. Nada de farmácia e já passava das 11 da noite. Então avistamos um supermercado local – o Safeway.
-Que ridículo ter-se que ir à um supermercado às 11 horas da noite para se pegar um tubo de KY… - pensei..
O supermercado estava completamente às moscas e com apenas uns dois caixas funcionando.
Seguimos para o setor da “pharmacy” ali e nada. Tampouco no de "family planning" ( estes tipos de gel normalmente estão ao lado dos preservativos). Nada. Ok. Que tal o setor de "feminine care" ? Tambem não.
Ou seja, dentro do TODO o enorme supermercado, não havia um único setor para se comprar nenhum tipo de gel da família KY ( ou outra marca qualquer) ou mesmo camisinhas!
Meu marido então foi perguntar ao caixa onde estavam os ‘condoms’ ( preservativos) - pois sabíamos que se encontrássemos os primeiros, os gels estariam no mesmo setor.
Resposta:
“ Eles ficam trancados. Mas posso ir com o senhor até lá para destrancar…”
Dá pra acreditar?? Pois continuem lendo pois ainda tem mais…
Eu, que nunca vi nem ouvi falar nada parecido com isso , ( Nem mesmo em Varginha, Minas Gerais , onde mora o meu pai!!) , certa de que isto deveria ser um supermercado filiado à alguma igreja, virei-me para o meu marido e disse:
-Deixa pra lá. Vamos procurar em outro lugar. Isto aqui CERTAMENTE não é New Orleans!! ( Para quem não sabe, muitos Americanos consideram New Orleans a terra da perdição na América…lol)
Saimos do Safeway.
Por estas alturas vocês imaginam que nós deveríamos voltar para o hotel e simplesmente esquecer o assunto, certo?
Errados! Agora estávamos determinados a ir até o fim.
-Não volto para o hotel sem o meu gel - informei ao meu marido, só de pirraça.
Como em Columbia não havia mais nada aberto aquela hora, resolvemos seguir até Ellicot City – uma cidadezinha vizinha, a uns vinte minutos de distância.
Nota: ( Eu tenho um casal de amigos do Rio - ela chilena e ele um brasileiro /Americano – que mora em Ellicot City há alguns anos. Na noite anterior, eles vieram nos encontrar em Columbia para jantar e ficamos batendo altos papos sobre nossos velhos tempos de Rio de Janeiro, nos anos 80 e 90, até de madrugada. Falamos também bastante sobre o Texas, incluindo o seu atraso, a breguice e o provincianismo das pessoas. ( Muita gente na Costa Leste, principalmente a medida que se vai chegando próximo de Nova Iorque, costuma ter o maior desprezo por lugares como o Texas…lol)
Mas voltando à nossa pequena aventura…
Próxima parada: Ellicot City. ( Eu já estava começando a me divertir com tudo aquilo pois estava me sentindo no meio de um filme do próprio Woody Allen…)
Afinal avistamos um outro supermercado, bem grande e iluminado, e igualmente às moscas aquela hora.
Nova pelegrinação pelos setores de “family planning”, “feminine care” , “pharmacy” e NADA!
Havia apenas uma caixa trabalhando; uma mocinha, e foi para ela que perguntamos:
“Onde está o setor dos condoms?”
Detalhe, nós ainda estávamos vestidos para o casamento: meu marido de terno e gravata e eu de vestido e pedrarias. Um digno casal de meia idade.
A moça perguntou se tinha ouvido direito. Se queríamos mesmo o setor dos preservativos
Meu marido confirmou .
Então ela disse que ia chamar o gerente, que é quem tinha a chave do ‘cabinet’ ( Eu juro que não estou inventando isso) e ligou para ele, já que se encontrava em outro setor.
Enquanto o homem não chegava, meu marido continuou perambulando pelo supermercado completamente vazio, com a esperança de miraculosamente encontrar o que procurávamos , e eu fiquei conversando com a caixa. A moça , muito animada e divertida com o par de ET’s de meia idade procurando camisinhas ( na verdade o gel KY) perto da meia-noite, num supermercado totalmente às moscas numa cidadezinha no meio do nada…, confessou que “suas noites de trabalho não costumavam ser tão divertidas”.
Eu lhe disse que morávamos no Texas e que nunca tinha visto ou ouvido falar de “trancarem os preservativos atrás de uma prateleira de vidro”. Ao que ela me respondeu:
-Aqui nós trancamos porque senão eles são roubados. As pessoas põem nos bolsos e saem sem pagar…
Que tal?
Nesse ínterim aparece o gerente. Um homem enorme de gordo, se arrastando nas suas pernas de brontossauro, segurando um molho de chaves numa mão e ao mesmo tempo nos informando que ‘aquelas não serviam’ , mas que ele ia procurar a chave certa…
( Juro que não estou inventando isso)
Eu gostaria muito de ter visto a minha própria expressão naquela hora , mas infelizmente não havia nenhum espelho por perto. Pena.
A moça, que já tinha virado minha camarada, então se virou para mim e disse:
-Sabe, tem uma Wal-Mart a duas quadras daqui. Que eu saiba, ao contrário da maioria dos lugares por aqui, eles lá não costumam trancar os condoms …
Estão pensando que desistimos e voltamos para Columbia?
Nananinana. Agora, voltar para casa com o nosso KY era uma questão de honra!
No carro, virei-me para o meu hubby e lhe disse:
-Deus realmente deve estar se divertindo muito conosco esta noite. É como se ele estivesse assistindo à um filme do próprio Woody Allen. Bem, vamos ver como termina.
Assim que chegamos na Wal-Mart e entramos na gigantesca loja ( já prontos para recomeçar a peregrinação pelos aisles de ‘family planning” , “feminine care” , “pharmacy” etc… , vimos logo ali, a poucos metros dos caixas, um container imenso, cheio dos mais diferentes produtos em promoção (pastas de dente, loções, giletes e guess what... Um gel chamado “Warm Touch”! lol )
- Wow, - exclamei em português, enquanto pegava o produto. - olha só isso aqui! Não é o KY, mas é o mesmo tipo de gel. Diz até que ele ‘aquece’ . Taí. Palmas para a Wal-Mart! Vamos comparar pra ver qual dos dois é melhor…
Foi aí que uma moça, que se encontrava de costas para nós próxima aos caixas , se virou e exclamou
-Pâmelli! Vocês por aqui , a esta hora??
Imagine! Era a minha velha amiga de escola, do Rio, com quem tínhamos jantado na noite anterior em Columbia! Ela e o marido, que moram em Ellicot City, tinham justamente ido fazer compras na Wal-mart aquela hora da noite… Ele já tinha passado pelo caixa e se encontrava do outro lado, com o carrinho cheio de compras.
-M! – foi a minha vez de exclamar.
-Eu ouvi alguém falando em português e olha só vocês por aqui…
Então eu lhe mostrei o que tinha nas mãos e expliquei como tínhamos vindo parar na Wal-Mart, em Ellicot City, aquela hora da noite. No caixa , meu hubby acabava de pagar pelo raro e controvertido produto na terra dos puritanos . Então seguimos os três para encontrarmos o seu marido do outro lado . Enquanto ouvia o meu relato, minha velha amiga mal se aguentava de tanto rir.
-E depois vocês dizem que o Texas é que é atrasado… Lá pelo menos se compra camisinhas e KY em qualquer mercado, farmácia etc. e SEM tranca!
-Que estranho. Eu não sabia que aqui era assim - respondeu M. – É o meu marido quem compra essas coisas…
Afinal nos juntamos à ele, que depois de ouvir sobre o nosso ‘ordeal’ e dar sua própria gargalhada, nos informou que de fato só na Wal-Mart e no CVS eles não trancavam os produtos.
-Mas eu não entendo por que alguem vai roubar uma coisa tão barata! – exclamou minha amiga. Tem coisa muito mais cara para se roubar nos supermercados…
-Eu sim. - respondi. - O problema não é a falta de dinheiro. O problema é a cabeça de puritano do povo aqui, que fica com vergonha de pagar pelo produto na hora de passar pelo caixa. Então prefere roubar.
- Deve ser isso mesmo. E os supermercados acabam tornando a coisa ainda mais constrangedora ao forçar as pessoas a pedirem para destrancarem o “condom cabinet” e assim , se exporem ainda mais!
-E nós, ontem que falamos tanto dos filmes do Woody Allen, heim, e do ótimo “Blue Jasmin”! – concluí. Este episódio, com certeza, poderia ser uma cena de um dos seus filmes...
Todos concordaram comigo.
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Conclusão:
Bom, pelo menos fomos pegos “ com a boca na botija” pelos meus velhos amigos de infância, um carioca e uma chilena, que viveram boa parte de suas vidas no Rio , assim como eu, e que de puritanos não têm nada, lol. Pior seria se tivéssemos topado com o pastor que casou os dois pombinhos algumas horas antes, a poucos quilômetros dalí!
Enfim, no final tudo virou uma grande piada.
Pois é, minha gente. O fato é que em New England e arredores, uma conhecida minha da Pennsylvania - que é childfree – jamais poderia se divertir às custas de algumas mega-famílias como ela já me confessou ter feito algumas vezes ao ir ao supermercado. ( Ela diz que quando vê uma família cheia de pimpolhos, costuma, só de sacanagem, pegar uma meia dúzia de camisinhas e jogar dentro do carrinho entupido de compras da mamãe , quando esta e o marido estão distraídos pegando algo das prateleiras. Depois ela segue o pessoal discretamente até o caixa e vê a reação dos pais quando começam a colocar os produtos na esteira e de repente topam com os preservativos…lol )
Não em Maryland, chérie. Aqui, é tudo debaixo de CHAVE !
Quer dizer, quando o gerente da loja encontra a chave…