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Parada Essencial

Benvindos ao "Diário politicamente incorreto da Pâmelli" - uma brasileira/americana childfree, residente nos E.U.A. desde 2003 Viagens, cultura, desabafos e muito mais!

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Um olhar para o passado

Pâmelli, 04.02.09

 

 
 
Gostaria de dedicar um post (  na verdade dois !)  à um pintor e um escritor- , pouco conhecidos da grande maioria das pessoas, mas que em sua própria época e respectivas cidades, eram célebres personagens locais, amados e admirados por muitos.
São eles : o escritor alagoano Romeu de Avelar e o pintor pernambucano Francisco J. Lauria.
Hoje escreverei sobre o escritor. O próximo post será dedicado ao pintor...
 
Confesso que, por razões pessoais ,  tenho um ‘apego todo especial’ por cada um  destes ‘artistas’ .  No entanto,  penso que isto não diminui  , de maneira alguma ,  o mérito e o valor da obra de nenhum dos dois, pois, como diriam  os americanos : ‘ One must look  at the bigger picture’...
 
Eu sempre gostei e admirei as pessoas destemidas e originais. Aquelas que não têm medo de dizer o que pensam, de viver da maneira que lhes convem, mesmo que por vezes corram o risco de serem incompreendidas, ridicularizadas e discriminadas pelo público em geral, pelos ‘amigos’ e conhecidos... Às vezes – dependendo do momento histórico em que vivam -  chegando ao ponto de serem encarceradas pelo governo!
Não falo de marginais.  Estou me referindo apenas à pessoas originais...
 
Romeu de Avelar era uma destas pessoas.
Seu primeiro livro publicado em 1921 , foi uma coletânea de contos a qual ele deu o nome de ‘ Tântalos’ . O segundo, o romance de 1923 intitulado  ‘ Os Devassos’ , foi apreendido por ter sido considerado na época, imoral.  Já com  ‘Crônicas de Ontem e de Hoje’ , de 1948, o autor  recebeu o Prêmio Othom Bezerra de Mello, conferido pela Academia Alagoana de Letras. 
No entanto, foi com a obra ‘Calabar’ , cuja primeira edição data de 1938, que Romeu de Avelar mostrou sua face original e a coragem de expor um ponto de vista , até então , praticamente inexistente no Brasil ; algo  que ia contra tudo o que até então se estudava nas escolas brasileiras e tinha-se como fato indiscutível :   a idéia de que Domingos Fernandes Calabar , - o combatente que durante as guerras de ocupação do nordeste  brasileiro em 1630, escolheu ajudar os holandeses ao invés dos portugueses... - NÃO era, nem nunca foi ( ao menos do ponto de vista brasileiro)  um traidor !
 
Nos tempos atuais,   as opiniões no Brasil sobre Calabar são controvertidas. Celso Cunha Júnior diz o seguinte: “ Quem foi Calabar?   Para uns , um patriota; para outros, um desertor; para muitos um traidor. Dele , com certeza, só se pode dizer: covarde não era. Era um bravo, um forte, um hábil guerrilheiro, um mulato de talento’
Hoje , muitos livros de História do Brasil recomendam inclusive  a leitura do livro de Civilização Brasileira ‘ Major Calabar’ , de 1979 , por Joaquim Felício Santos , o qual fornece uma visão heróica do discutido personagem histórico.
 
No entanto, foi Romeu de Avelar quem pela primeira vez  ,  com seu romance  de 1938 , 'CALABAR’ - (‘Interpretação romanceada do tempo da invasão holandesa’ )  apresentou ao público brasileiro  a idéia ( então  bastante original e controvertida – aliás, subversiva!)  de que o combatente de Porto Calvo  tinha sido  na verdade,  ‘Um herói. Um  brasileiro altivo e consciencioso, que não se deixou avassalar.’   
 E completa: 
“E que era o Brasil? Uma colônia espano-portuguesa despovoada, presa sedutora de usurpadores de toda casta; terra, a bem dizer, sem dono certo, sem tradição, sem costumes firmes, sem coesão orgânica. Os nativos , não tendo , por consequência, compromissos, e não havendo ainda conceituação de pátria, podiam naturalmente aliar-se ao invasor que melhor lhe parecesse. Foi o caso de Calabar, abandonando os arraiais ibero-hispanos pelo pavês da Holanda.”
 
Em 1973 saiu a segunda edição de 'CALABAR'     - edição há muito esgotada e que hoje só pode ser encontrada, após certa ‘pesquisa’,  em um ou outro sebo no Brasil.
Eu, tenho um dos poucos exemplares do livro que ainda circulam pelo país  ( no caso , a segunda edição de 1973...), assim como  uma versão em capa dura de  ‘Os Devassos’ , uma edição  de ‘Crônicas de Ontem e de Hoje’  e outra de ‘Figuras da Terra ‘ de 1963. 
Todos  escritos por Romeu de Avelar - aquele mesmo autor , que primeiro teve a idéia e a  coragem,  de resgatar a imagem tão controvertida e muitas vezes incompreendida,  de um importante personagem da História Brasileira.
 
Frequentemente a primeira pessoa a nos apresentar uma idéia, um ponto de vista, uma análise original sobre um tema , um conceito ou uma realidade,  com o passar dos tempos, acaba sendo esquecida.
Eu penso que a visão contemporânea e a maneira mais realista e justa como Domingos Fernandes Calabar  hoje  é estudado no Brasil,  devem muito a Romeu de Avelar.
Por isso resolvi escrever este post em meu blog.
 
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   Romeu de Avelar nasceu na pequena cidade de São Miguel dos Campos, no estado de Alagoas no final do Século 19.   Se formou em Direito no Rio de Janeiro e foi diretor de vários periódicos em Maceió, Recife, Belo Horizonte  e Rio. Ocupou vários cargos públicos, sendo durante muito tempo diretor da Rádio Mauá , do Rio , assim como tradutor contratado da Editora Vecchi na mesma cidade. Faleceu na década de 70 , em um acidente de carro em Minas Gerais.
Na época, eu tinha por volta de  sete anos de idade e portanto  não tive a ocasião de conhecê-lo tão bem quanto gostaria.
Romeu de Avelar, era meu avô materno.