(Foto tirada do carro, em uma das várias estradas por onde passamos...)
Bem, já faz mais de um mês que voltamos da Europa.
Felizmente tomei algumas notas em uma bela agenda de capa dura e PAPEL, lol, com muitas fotos da região, que comprei na cidadezinha medieval de Sarlat. Aliás, taí uma coisa quase impossível de se encontrar hoje em dia : uma agenda tradicional que não seja eletrônica!!
Mas, sigamos para o Périgord ( ou a Dordonha)…
Patos, muitos patos e gansos!! Lol Voilà as primeiras coisas que nos vêm a mente quando pensamos nesta região da França. Além de muita, muita Pré-história, arquitetura medieval e , é claro, como não poderia faltar…castelos!
A culinária local:
Ah, a Terra do foie-gras…
Sim, estou falando do famoso ‘fígado de ganso’ ou pato ( foie-gras de-canard) – mais (vulgarmente) conhecido como ‘patê de fígado’ no Brasil . Impossível falar na Dordonha sem mencionar esta especialidade local.
E sinto em dizer que este é um de meus guilty pleasures... Uma contradição em minha personalidade pois, apesar de amante e defensora perpétua dos animais, confesso que como e ADORO foie-gras! (Afinal, todo o mundo tem o seu lado ‘meio bárbaro’, certo?)
Coitadinhos dos patos e gansos. Sinto realmente pela maneira detestável como são engordados e , na livraria onde encontrei a agenda de capa dura – e que tinha vários belos postais da região…- me recusei a comprar um que mostrava justamente uma velha camponesa , usando uma espécie de tubo pra enfiar comida goela abaixo no pobre bicho.
Que idéia! Isso lá é coisa pra se colocar em um cartão postal??
Mas nesta viagem , ao menos vi uma coisa que me fez sentir um pouco menos culpada cada vez que degusto um belo bloc de foie-gras com uma taça de Prosecco…
Ao dirigirmos pela região, vimos várias fazendas de criação de gansos e patos e em muitas delas eles estavam andando LIVRES no meio da natureza. Sim, isto me serviu como um pequeno consolo já que os bichos me pareceram bem satisfeitos ( e GORDOS!) , simplesmente, tic-tic-tic… andando pelos campos em grupos e, felizmente, TOTALMENTE IGNORANTES do que estava por lhes acontecer! ( Ser bicho tem as suas vantagens e alí eu diria que a frase ‘Sou gordo, mas sou feliz…’ até que faria sentido...)
Além do world-famous foie-gras, outra especialidade da região é o magret de canard ( escalopes de pato, servidos em um molho rico…) . E como não poderia deixar de ser, aproveitamos para conhecer alguns vinhos locais - o Bergerac e o Cahors , ambos meio ‘rústicos’ e nada a serem comparados à um Bordeaux ou Bourgogne , mas ainda assim, apropriados para acompanhar a típica cozinha local.
História e Cultura no Périgord:
Esta região , no sudoeste da França, é uma das mais ricas em termos de história e arqueologia. É alí que se encontra a famosa Caverna de Lascaux ( com suas pinturas pré-históricas) , além de muitas outras, menos conhecidas, mas igualmente fascinantes.
Nos três dias que exploramos a região, conhecemos o Vale do Dordogne ( o rio), que é cheio de monumentos e parques pré-históricos , além de castelos! Sim, não é somente no Vale do Loire que a França tem castelo saindo pelo ladrão!! lol
Sarlat, a cidadezinha onde nos hospedamos, tem cerca de 10.000 habitantes e é uma pequena jóia medieval com suas construções em pedra cor- de- mostarda , uma déli de foie-gras a cada esquina e uma animada rua de comércio . Alí nos hospedamos no agradável hotel ‘St. Albert’ , bem no centro, e jantamos duas noites no ‘Bistrôt de L’Octroi’ – sob a recomendação da recepcionista, que realmente sabia das coisas e nos deu ótimas dicas do que fazer na região. Aliás, volto a dizer, os franceses FORA de Paris parecem outra ‘raça’: São gentis, pacientes e frequentemente até sorridentes!! lol
Sempre com nosso carrinho alugado , tiramos um dia inteiro somente para explorarmos o Vale do rio Dordogne e conhecemos algumas cidadezinhas charmosas e românticas como Beynac , Limeuil e St. Leon- Sur- Vezère…, cheias de construções românicas( Como esta igrejinha aqui no centrinho de St. Leon...) – ou seja, da época medieval, pré-gótica. ( Em francês, é conhecido como o estilo roman, e que não tem nada a ver com os romanos!!)
Nota: Como visitamos a região fora de temporada ( no inverno) , não tivemos qualquer problema em arrumar hotel, mesmo sem reservas e chegando nas cidades tarde da noite. Contudo, para quem quiser passar por lá durante a alta temporada, é um MUST fazer suas reservas com antecedência !
A Famosa Caverna de Lascaux:
Nossa visita à caverna de Lascaux II tambem foi muito excitante – principalmente para mim, agora, como estudante de arqueologia.
A gruta foi descoberta em 1940 por dois meninos e seu cão e imediatamente se tornou um ponto turístico famosíssimo. Contudo, em 1963 foi fechada ao publico já que o número de turistas (respirando e andando pelo local) estava causando a deterioração das pinturas de mais de 17.000 anos! A solução foi construírem uma réplica da caverna e das pinturas originais ( alias, muito bem feita!), e é isso o que hoje em dia os turistas visitam – Lascaux II.
De minha parte , só pude agradecer aos céus o fato de estarmos lá no inverno e fora da alta temporada ( o verão) , pois ainda assim, éramos 40 turistas visitando a caverna de uma vez – e em algumas partes a coisa fica bem estreita e apertada ( algo nada, nada recomendado para claustrofóbicos como eu…) . Já imaginaram o pesadelo fazer o mesmo tour no verão, quando, segundo nossa guia, os grupos chegam a ter 65 pessoas?!!
A boa notícia é que a temperatura lá dentro é mantida a 13 graus centígrados constantes – para preservar as pinturas. Então pelo menos ninguem se sente sufocado! lol. (Portanto aí vai outra dica: quem resolver se aventurar a visitar Lascaux II no verão, lembre-se de levar um casaco dentro da bolsa na hora de entrar na caverna pois a visita lá dentro dura cerca de 45 minutos e uma vez que se entra, não dá mais pra voltar atrás...)
O que mais me impressionou em tudo isso?
A semelhança que não pude deixar de notar entre os cavalos, bisões e touros pintados pelos trogloditas de Cro-Magnon em Lascaux, e os desenhos dos mesmos animais, feitos no século XX, por Picasso! Lol Sim, toda aquela pintura supostamente ‘moderna’ do grande gênio espanhol , certamente deve muito da sua inspiração à arte paleolítica de Lascaux ( que Picasso certamente visitou durante os anos que morou, auto-exilado, na França...) .
Ainda antes de deixarmos o Périgord, dirigimos até a impressionante cidadezinha de Rocamadour - toda construída em cima de um penhasco. Coisa de louco, linda de morrer e um absolute must ao se visitar a região!
Nota: o castelo no topo não está aberto a visitação pública pois é habitado pelos monges lá do local ou algo assim...( Ao meu ver , uma folga e um grande desperdício turístico!! lol)
Paris, a etapa final:
Depois da Dordonha seguimos para Paris para passarmos os últimos dois dias antes de embarcarmos de volta ao Texas.
Ok, Paris é sempre excitante, mas confesso que fiquei melancólica ao deixar o Périgord. Pra mim não há melhor lugar na França do que a province –esteja você na Provence ( o sul da França), na região do Vale do Loire ou na Dordonha. De fato, é engraçado: no Brasil e Estados Unidos eu tenho verdadeiro horror ao campo/interior. A coisa me deprime e entedia terrivelmente! lol Já na França, ( alias, na Europa de um modo geral…) eu simplesmente adoro aquelas cidadezinhas calmas, cheias de história e cultura, boa culinária e longe do estresse e mal-humor dos europeus metropolitanos.
Aliás, devo dizer que em Paris nós nunca comemos tão bem quanto na province. (Bem, talvez se você fôr jantar no Tour d’Argent sua experiência seja realmente inesquecível. Mas este não é o tipo de restaurante que podemos nos dar ao luxo de frequentar…)
Anyway, na capital do Hexagone , resolvemos pegar ‘leve’ e não nos obrigarmos a visitar ou ver nenhum local específico.
Apesar disso, é claro que não pude deixar de voltar à catedral de Nôtre-Dame ( aqui vista de trás, através do rio Sena...) , onde desta vez , meu hubby aproveitou para subir nas torres e ver a cidade toda lá do alto , enquanto eu segui até minha livraria preferida ( a ‘ Gilbert Jeune’) a poucas quadras dalí , no coração do Quartier Latin. ( Em Austin não há livros em francês para se comprar; é preciso ir até Houston! Portanto toda vez que vou à Paris, aproveito pra fazer meu pit-stop na Gilbert Jeune e comprar alguns classiques français...)
À noite tentamos assistir ao balé ‘Coppelia ’ no Opéra , mas neste dia nossa programação ‘improvisada’ não funcionou. Os ingressos já estavam todos esgotados. Resolvemos então passar a noite descansando em nosso apart-hotel ( o Citadines) em Montparnasse, comendo o foie-gras que eu havia trazido da Dordonha e degustando uma demi-bouteille de Sauternes. Quem é que vai reclamar?? lol
Nossa viagem tinha terminado , mas as doces lembranças de todos os lugares por onde passamos , de todas as belezas históricas que conhecemos e a excelente culinária local e o vinho que degustamos ficariam em nossa memória para sempre.
Pois é, caros amigos. Se a cegonha que me levava ( certamente tendo a França como o seu destino final! ) não tivesse sofrido uma pane mid-flight e deixado o saco com o bebê cair no lugar errado...Eu certamente não teria o menor problema ou falsa modéstia em dizer para o mundo, do fundo de minha alma: 'Tenho orgulho de ser francesa!'
Vive la France! Aujourd’hui et toujours.