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Parada Essencial

Benvindos ao "Diário politicamente incorreto da Pâmelli" - uma brasileira/americana childfree, residente nos E.U.A. desde 2003 Viagens, cultura, desabafos e muito mais!

Parada Essencial

Benvindos ao "Diário politicamente incorreto da Pâmelli" - uma brasileira/americana childfree, residente nos E.U.A. desde 2003 Viagens, cultura, desabafos e muito mais!

Chutando o pau da barraca

Pâmelli, 11.12.08

 

Como eu mencionei em meu penúltimo post,  agora ando dando aulas de 'Business Portuguese'  para um jovem advogado que trabalha no centro da cidade.

Há alguns dias atrás, enquanto deixava o edifício -garagem de seu escritório,  de repente me vi pensando no tanto que minha vida  havia mudado  nestes últimos... quase dez anos.

Yes,  I've come a long way

 

Alí estava eu,  dirigindo o meu lindo carro (  antigo , mas lindo ,  e que eu adoro...:-) ,  saindo de um belíssimo prédio de escritórios no centro de Austin, após ter dado um aula para um aluno bastante  high profile ...:-)

Sim,  hoje eu  não apenas dou aulas em alguns dos  melhores estabelecimentos da cidade  ,   mas  tenho meu trabalho reconhecido e bem pago .  Sou uma profissional admirada, uma mulher bem casada,  moro em uma casa grande e confortável,  tenho o carro dos meus sonhos e ,  recentemente,  até consegui um passaporte de Primeiro Mundo!  lol    ( Sim ,  isto foi para mim , durante muito tempo, o meu capricho e fetiche pessoal...:-)) - e não apenas por razões práticas e realistas.)

Meu próximo goal agora é no ano que vem publicar meu primeiro romance. :-).  Faz dois anos que trabalho neste projeto. 

La vita è bella  -  mas nem sempre foi assim,  certo?  

Certo!

 

Há momentos na vida quando precisamos realmente fazer uma auto-análise e decidir se estamos seguindo o caminho certo -  e se chegamos a conclusão que não,  ter a CORAGEM de mudar tudo e , se necessário ,  recomeçar  do ZERO!

Em outras palavras,  há momentos na vida onde é preciso chutar o pau da barraca.

O problema é que muita gente não tem a coragem de fazer isto.  Prefere continuar levando uma existência miserável e deprimente  , de infelicidade  já conhecida...Do que arriscar e tentar procurar a felicidade no campo do  arriscado e  desconhecido.

 

Há dez anos atras eu morava em uma pequena cidade no interior do Brasil .

Eu lutava para manter um pequeno curso de línguas.  Eu tinha um casamento falido.

Vivia sozinha,  trabalhando dia e noite,  mal paga,  endividada , mal amada, solitária e  incompreendida.  Eu era um E.T. no meio daquela gente,  daquela cidade.

Estava  no lugar errado,  no meio das  pessoas erradas...Semi-morta!

Durante cinco anos vivi esta vida infeliz  e  desgraçada. 

 

Apesar de tudo,  era uma empresária.  Morava  em uma casa enorme.  Tinha empregada,  carro , vários cartões de crédito...Todos cheios de dívidas!

 Então   um dia  resolvi que era hora de pôr um fim a tudo aquilo:  o negócio falido  ,  o casamento infeliz   - em suma:  toda aquela existência errada e deprimente. 

 

Fechamos a escola.  Meu ex-marido voltou para a Alemanha.  Eu,  retornei ao Rio e recomecei a dar aulas de línguas em diversos cursos locais ,  agora novamente como uma simples professora. Aluguei um quarto e sala em uma das ruas mais barulhentas de Copacabana.   Eu já tinha quase 35 anos e estava pronta para recomeçar minha vida do ZERO.

 

Apesar de dar aulas  dia e noite,   mal conseguia pagar o aluguel.

Passava os fins-de-semana em casa,  assistindo a vídeos,   por falta de dinheiro para encontrar os amigos e acompanhá-los em seus programas sociais.   Comia na casa de meus pais.  As vezes trazia alguma coisa de lá para pôr na geladeira lá de casa, que só vivia vazia.

 

O principal curso onde eu trabalhava faliu e deixou de pagar os professores durante meses. Por falta de pagamento perdi todos os cartões.  Perdi o crédito tambem.

Um dia,  me lembro bem, pois para mim aquele foi o momento  em que cheguei ao fundo do poço... Estava andando pela  movimentada N.S. de Copacabana ,  no Rio,   quando avistei um  pequeno chumaço de notas caídas na calçada.   Eram 30 reais -  cerca de uns 10 dólares .  Me lembro que olhei em volta apenas para me certificar de que mais ninguem havia visto a 'fortuna'  e então peguei  o dinheiro e  saí correndo.

$30.00  reais -  era mais do que eu tinha em minha conta no banco naquele dia.

 

 Foi nesta época que conheci meu segundo marido,  que estava a trabalho no Rio e passei a lhe dar aulas de português.

No entanto sua estadia  no Brasil  durou apenas alguns meses e  logo ele voltou à América.

 

Pouco depois eu  aceitei uma oferta de emprego para trabalhar como professora de línguas em plataformas de petróleo. 

Aquilo representava um pequeno risco de vida,  mas tambem uma GRANDE  chance de mudança!  Eu trabalharia apenas 2 semanas por mês,   residindo  na plataforma.   Éramos apenas 6 mulheres , entre os 200 embarcados.  Eu dormia em um beliche, dividindo o quarto com mais quatro funcionárias. 

Em troca, tinha  duas semanas livres todo mês -  além de um salário bem melhor do que o que recebia dando aulas em 3, 4 lugares diferentes ( sem contar os alunos particulares...) no Rio.

 

Mudei-me para a Costa do Sol.  Aluguei um studio em um pequeno balneário  próximo de Macaé,   o local de onde saíam os  helicópteros para as plataformas...

  Foi a partir dalí que as coisas começaram a melhorar para mim.

 

Na plataforma eu tinha bastante tempo livre entre uma aula e outra - tempo que eu usava para ler, frequentar a academia ou assistir aos vídeos do cineclube off-shore.  

Durante as duas semanas que ficava livre por mês,  eu aproveitava as praias na Costa do Sol -  principalmente em Búzios , que ficava próximo de onde eu morava.

 

Meu meio de transporte  no balneário era uma bicicleta.  Minha  única amiga e companheira , minha cadela. Minhas únicas diversões ,  a internet e a televisão.

 

Aos poucos  fui conseguindo  pôr minhas contas em dia. 

Eu vivia sozinha , mas estava em paz com a vida e sabia que tinha feito a coisa certa.

 

Mas o 'destino' me reservara  algo mais...:-)

 

Foi então que meu ex-aluno  de português ( meu atual marido) voltou ao Brasil  e foi a minha  procura  .   Quase dois anos tinham  se passado  desde nosso último encontro mas ele  não havia me esquecido.

Quando chegou ao Rio , soube que eu  estava embarcada na plataforma . 

Então , no mês seguinte,   ele voltou novamente durante minha quinzena de folga.

Naquele fim de ano nós passamos uma de nossas melhores férias na Costa do Sol ...

 

 

 

Hoje eu estou aqui e tudo isto faz parte do passado,  mas seria realmente  o PASSADO ,  se eu não tivesse chutado o pau da barraca e dito ,   " BASTA!

Chega!    Não quero mais isto.  Não terei mais isto em minha vida.  Estou pronta para recomeçar.  Eu mereço algo mais! "   ???

 

 

Nunca se conforme com a sua infelicidade.  Você merece e pode ser feliz.

Acredite.  Nunca desista.  E principalmente,  não tenha medo de chutar o pau quando as coisas chegarem a um ponto menos do que o suportável.

 

O 'destino'  :-)  ajuda  aquelas pessoas que têm fibra e coragem  para mudar  a própria sorte e se acham merecedoras de tudo de bom que a vida pode lhes oferecer.

 

O 'destino'  :-)  ,   gosta de pessoas com os neurônios dourados...

 

 

 

A França romana e medieval...

Pâmelli, 16.10.08

Mas , deixando as mazelas cariocas pra trás ,  voltemos aos dias que passamos na França...

 

Após Sête,  seguimos para Carcassonne  ,  que eu sempre tive  vontade de conhecer.

Descobrimos um hotelzinho ao pé do morro ,  bem próximo à entrada da cidadela.

 

Carcassonne é uma cidade para se passar ao menos um dia inteiro e noite. 

Um verdadeiro cenário de conto de fadas,  no seu auge,  ( lá pelo Século 12) ,  foi governada pela família Trencavel, que construiu o castelo e a catedral da cidade.

Tudo foi  divinamente restaurado pelo arquiteto francês Violet -le- Duc no Século 19.

 

Uma vez dentro da cidadela,  visitamos o castelo  ( foto)  ( Chateau Comtal),  a basílica de St. Nazaire ( em estilo românico e gótico) e passeamos por entre as várias lojinhas de suvenirs,   cafés e restaurantes turísticos da cidade. 

 Fizemos um pit-stop em uma crêperie ( restaurante de crêpes) na hora do almoço   e à noite comemos  em uma brasserie  chamada "Le Donjon"   (o lugar parece um 'donjon' moderno e estilizado...:-)) ,  próxima à entrada do castelo.   

( Nome muito  apropriado aliás ,  já que  donjon  se refere à torre central dos castelos medievais  -que frequentemente tinha uma prisão!  - daí o nome dungeon em inglês...)

 

Em seguida ( já a caminho de Avignon, onde deixaríamos o carro no dia seguinte, antes de seguirmos de trem para Paris...)  partimos para Narbonne  ,  outra cidade fundada pelos romanos no sul da França.

Ao contrário de Arles ,  Narbonne hoje tem muito pouco do que restou daquela  época . 

 Ainda assim,  no centro antigo e medieval da cidade,  pudemos visitar o Museu Arqueológico e da Pré-História (  que mostra  boa parte da herança romana de Narbonne ) ,  descobrimos a  'ruína'  de uma antiga rua  ( via) romana   ( na foto)

 

 

e visitamos o Horreum - um conjunto subterrâneo do Século 1 a.c. ,  que era usado  como armazém ,   já que Narbonne era naquela época  um importante porto e a capital da província romana na Gália. 

 

Resolvemos então seguir para Nîmes ( afinal eu queria fazer o 'triângulo romano'  :-)) - Arles, Nîmes e Narbonne) ,  já que a cidade fica bem próxima de Avignon, onde deveríamos chegar no dia seguinte.  

(Eu havia estado em Nîmes  igualmente no ano anterior e tido  a oportunidade de conhecer o enorme anfiteatro , assim como o templo da Maison Carrée - ambos da época romana .)

 

Já passava das 8 da noite quando chegamos lá.  Deixamos o carro no hotel e seguimos à pé até a área nos arredores do anfiteatro a procura de um restaurante. 

No dia seguinte começariam as ferias   ( os festivais e touradas) de Nîmes e a cidade  já estava cheia de turistas . 

Conseguimos  o último quarto do hotel -  o único que  tinha sobrado e  que era  sem chuveiro no apartamento  , apenas no corredor!!.  Ainda assim demos sorte de encontrar um lugar pra ficar  no centro turístico da cidade,   já que não tínhamos feito qualquer reserva .

 

O passeio à noite pelo centro de Nîmes em direção ao restaurante que nossa recepcionista recomendou foi muito agradável  e àquela hora da noite o anfiteatro romano  me pareceu ainda mais impressionante.  ( O de Nîmes é ainda maior e  está mais bem preservado do que o de Arles...)

 Nosso jantar  aquela noite  foi um dos melhores que tivemos  na França : 

 O lugar se chamava  "Le Cheval Blanc"    ( Cavalo Branco) - afinal a Camargue não estava muito longe dalí. :-)) ... E tanto o gazpacho quanto o foie-gras estavam de tirar o chapéu! 

Adorei especialmente os quadros nas paredes ( bem modernos, lembrando um pouco Picasso) .  O ambiente é no  estilo 'casual-elegant' ( chique sem frescura)  e o lugar, apesar de  bem animado ,  não deixa de ser romântico.  O preço, contudo,  é um pouquinho salgado - principalmente para quem ganha em dólar hoje em dia...  :-(  ( MANY THANKS  George W. Bush for f*cking*&%up the economy!! )

 Anyway,   assim encerramos nosso tour pelo sul da França .

 

 

No dia seguinte pegaríamos o TGV ( o trem bala francês)  rumo à Paris, onde ficaríamos apenas 3 dias , antes de retornarmos aos E.U... 

Languedoc Roussillon

Pâmelli, 09.10.08

E então seguimos em nosso carrinho mínimo (  o Fiat 500)  , partindo de Avignon,  em direção ao Languedoc Roussillon -  aquela região da França combinando quilômetros de orla marítima ( e , ao contrário da maioria das praias da Côte d'Azur,  com AREIAS - ao invés de pedras...-  brancas e limpas!) e uma variedade de balneários , desde pequenas aldeias de pescadores até alguns resorts feitos sob encomenda.  Eu não via a hora de avistar o Mediterrâneo! 

 

Decidimos seguir para Sête -  uma destas cidadezinhas com tradição pesqueira e a cidade natal do poeta,  compositor  e cantor Georges Brassens  ( com suas músicas  meio picantes e  divertidas) , assim como  do poeta  moderno Paul Valéry .

No caminho para lá ,  passamos pela Camargue ( a região pantanosa da França , famosa pelos seus  flamingos,  os touros e principalmente os pequenos  cavalos  árabes brancos...) e alguns balneários mais simples como Les Saintes Maries de la Mer e  Le Grau du Roi.  

A surpresa foi  quando chegamos  em La Grande Motte   -  um resort evidentemente moderno e , imagino, feito sob encomenda para turistas com o espírito mais 'badalado'  e sofisticado -  mas ainda assim,  bem mais low profile do que os balnerários  da Côte d'Azur , famosos por seus festivais de cinema ,  milionários, cassinos e celebridades...  

As modernas  construções em La Grande Motte  são muito bonitas ,  com seus  prédios  lembrando a forma de  um navio e a  marina,  cheia de belas embarcações privativas e rodeada de   cafés e restaurantes  animados.

Por um momento pensamos em passar a noite por lá mas depois decidimos seguir  mesmo para Sête ,  conforme o plano original.

 

Afinal chegamos na  ' pequena pérola do Mediterrâneo' ...  Que  eu já tinha conhecido o ano anterior e havia gostado bastante. 

O hotel mais 'clássico'  da cidadezinha é o Grand Hotel , bem no centro , mas decidimos ficar em um mais simples e na parte mais moderna da cidade -  La Corniche. 

 Na parte antiga (  o Centro )  os prédios são em  estilo clássico ( Séculos 17? 18? ) , a avenida principal se chama 'Victor Hugo' :-)  e o teatro municipal é o 'Molière'  :-) . (Adoro essa mania que francês tem de dar nome de escritores famosos às ruas das cidades ! )

 

Sête é  cortada por vários canais      ( lembrando uma pequena Veneza)  e no bairro mais rústico dos pescadores há o  Vieux Port  ( o porto antigo),  de onde saem os barcos pesqueiros todas as manhãs. 

  La Corniche, onde ficamos,  fica à uns dez minutos do centro e é a primeira praia ao longo da orla.  São   quilômetros e quilômetros de praia de areia limpa, com o mar calmo e pouca gente .  (É verdade que já estávamos no final do verão ,  portanto já fora da  temporada.  Imagino que o lugar fique bem cheio no auge do verão e durante as  férias escolares na França...)

Ao longo da costa,  seguindo em direção ao centro da cidade ,  há uma bela estrada  e , ao lado,    um calçadão perfeito  para se caminhar ou andar de bicicleta.  Me lembrou a Avenida Niemeyer no Rio  - somente  com 'algumas diferenças' :  

Primeiro,     em Sête,  o morro  que acompanha a estrada é decorado por charmosas  villas , hoteizinhos  ou condomínios de apartamentos  (Na Avenida Niemeyer temos a  gigantesca favela do Vidigal ! ) . Segundo, na cidade de Brassens , do lado da costa , o mar é  o Mediterrâneo  :-)  -  e alí ,  ao contrário do que dizem das praias na Côte D'Azur,  a água é visivelmente limpa e sem poluição !   ( Já no Rio ,  as praias de Copacabana, Ipanema, Leblon,  São Conrado etc..., banhadas pelo Atlântico, há  muito que estão poluídas com o monte de esgoto (não tratado!)  que é  jogado  ao mar diariamente ! )

Por fim,   o melhor da história:  Na avenida a beira mar de Sête,  pode-se andar a pé,  de carro ou de bicicleta CALMAMENTE ,  aproveitando a vista , parando para conversar,  sentando-se  em um dos banquinhos para namorar  , tirar fotos ou filmar os arredores . 

 Sim,  conterrâneos brasileiros,   eu seguia  a pé , tranquilamente   com minha câmera digital e filmadora à tira-colo,  sem a menor preocupação ou sentimento de ansiedade!   O ar era leve , seco e limpo.

Já no Rio,  quem se atreveria a sair do carro e caminhar pela  Av. Niemeyer??  Aliás,  nem tem calçada (  muito menos calçadão!!)  para se andar ao longo da avenida  !

  Câmeras e filmadoras por lá ??  Boa idéia  -  para quem estiver pensando em um  suicídio bem rápido! 

A verdade é que na antiga Cidade Maravilhosa  ( Hoje , Cidade Calamitosa...) ,  atualmente não é preciso sequer sair do carro para se levar um tiro de bala perdida partindo de alguma favela , ou  uma bala muito bem direcionada e com o intuito bem específico  , saída  da pistola de algum assaltante de sinal...

(  Cariocas, se eu estiver mentindo, por favor,  escrevam e comentem no blog dizendo que  estou  inventando coisas e difamando o povo e a cidade do Rio de Janeiro! )

 

  Por fim, à noite jantamos em um dos restaurantes no centrinho turístico da cidade.

Sopa de peixe e camarões na chapa -  tudo com cara  e gosto mais de cozinha espanhola  :-((  seca e sem molho) do que francesa.  Afinal ,  Barcelona  estava apenas há poucas horas de distância...


Meu marido não ficou muito impressionado com Sête.  Talvez tivesse gostado mais de Nice , St. Tropez ou Cannes.  Mas eu sim.  

Adorei aquela cidadezinha à beira do Mediterrâneo , sem pretensão,  com hotéis baratos, turistas  principalmente  franceses e restaurantes simples mas charmosos.   Uma França com o espírito e o sotaque bem do Midi  ( Sul) ;   como as músicas de Georges Brassens....

 

 Talvez  tivesse me sentido assim porque  o lugar , em sua parte mais moderna como La Corniche , tenha me lembrado muito o Rio de ANTES .   Uma  espécie de 'mini -Barra da Tijuca', de  trinta anos atrás ,  quando  eu era pequena e as  praias ainda  eram limpas e quase desertas, as construções eram poucas e espalhadas,  o trânsito suportável e  os cariocas ainda tinham orgulho de sua cidade e eram  felizes... 

 

 

 

A minha Pasárgada

Pâmelli, 17.08.08

 

 

Ai, ai , ai...Coisa boa que é uma piscininha!

Minha amiga uruguaia , que sabe que na falta de uma praia,  sou LOUCA  por uma piscina,  hoje me convidou   novamente  ( assim como minha mãe , que está nos visitando...) para ir até sua casa.  Ela mora em um conjunto de apartamentos -  o que na América eles chamam de 'condominiums'...-  que tem uma ótima piscina.  

 

C. se divorciou há pouco mais de um ano , após 23 anos de um casamento infeliz .  Tem dois filhos já na faculdade e é tradutora de espanhol .   Ela é bem o oposto de minha mãe :   bem calma,   com a voz fraquinha e tendência a hipocondria e depressão. É o tipo de pessoa que acalma os outros sem entusiasmá-los .  Faz o  gênero low profile,  meio apagada,  que fala mole, anda devagar e faz ioga.  Aliás , ela pratica ioga várias vezes POR SEMANA!

 

Já minha mãe é exatamente o oposto:  uma pessoa excessivamente enérgica ,  ansiosa,  impaciente, cheia de vida , vitalidade, vaidade e hedonismo.  É o tipo de pessoa que estressa mas diverte;  perturba mas anima  ( e frequentemente domina!) o ambiente . 

Minha mãe,  como toda boa carioca ,  pratica ginástica aeróbica, esteira e musculação  5 vezes por semana.  Já passou dos 60 , mas parece pelo menos 10 anos mais nova.

 

Então,  enquanto aproveitava a piscina,  o sol  e as cenourinhas e aipo  com molho ranch que levei,   de repente , me vi pensando que o ideal era que C. passasse a fazer a ginástica  'carioca' de minha mãe   - aquele programa intenso,  cheio de animação,  energia, otimismo , bom humor e irreverência :  (  " Vamo lá , galera!  Vamo levantar essa bunda!  Oito, sete, seis , cinco..." :-)) 

Isso mesmo. Malhar ao som de  Barry White ,  Tim Maia,  Lulu Santos,  Earth, Wind & Fire e Gloria Estefan ... Endorfina pura  . Eis o que   C. precisava para levantar seu astral.

 

Já quanto à minha mãe...Penso que umas aulinhas de ioga e relaxamento lhe fariam muito bem.  Algo que a acalmasse ,  que  a deixasse menos 'elétrica' e diminuísse um pouco toda a sua  inerente  intensidade. 

As duas deveriam trocar de atividade física!  lol

 

E eu?  Como é que eu fico nesta estória??

Bem,  sei que nada me dá mais bom humor, otimismo e  sensação de  bem estar do que estar perto do mar. 

Sei que é pra lá que preciso voltar em breve.  Definitivamente , não quero ,  não vou envelhecer longe dele!   

 A costa... O horizonte infinito.  Eis a minha endorfina.  Esta é a  MINHA Pasárgada!

O meu caso não é um de 'troca de atividade física  ' e sim de mudança de ambiente.

 Então,  enquanto não me mudar e voltar a morar na beira do mar,  vou aproveitando a piscina dos amigos e a do Clube de ginástica. É sempre melhor do que nada.

 

 

P.S.  Nunca fui muito chegada à poesia.  Sempre preferi a prosa,  de preferência os grandes 'clássicos' da literatura mundial.   No entanto,  esta do Manuel Bandeira eu gosto bastante!

 

 

 

VOU- ME EMBORA PRA PASÁRGADA

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha  e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

 

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei em pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as estórias

Que  no tempo de eu menino

Rosa  vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide a vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

 

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

-Lá sou amigo do rei-

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

 

                                                   Manuel Bandeira  -  Pasárgada (1959)

 

 

 

 

 

 

 

 

DESIDERATA

Pâmelli, 13.07.08

 

 Em latim significa : 'aquilo que se deseja ou que é desejável...'

 

Descobri o texto , nos anos 90 ,  em um livro de inglês para alunos intermediários , que usava para dar aulas no Brasil.  Na época minha vida não podia estar mais errada:   casamento falido,  morada em uma cidade que abominava, solidão, preocupações financeiras e profissionais  com nosso negócio que não ia lá muito bem...

Foi amor a primeira vista.  Ensinei aos alunos,  que tambem gostaram.  Passei a carregar comigo o texto aonde quer que fosse...  Para mim  era uma espécie de amuleto ; a minha 'Bíblia' ;  a esperança viva e tangível de que algum dia minha vida iria mudar e que  um dia eu  finalmente me veria BEM  longe ...Longe daquele lugar e daquelas pessoas que me faziam tão infelizes. ( Ah,  a pior coisa na vida é se morar no lugar errado e rodeado das pessoas erradas!!)

 

Embaixo da página  do texto estava escrito:  " Texto  de autor desconhecido, encontrado na igreja de Old St.Paul's  , em Baltimore USA,   em 1692... - Acho esta parte especialmente interessante considerando que meu atual marido e sua família são originalmente da cidade de Baltimore ! :-))) 

Coincidência?  Destino?  Como lemos na própria DESIDERATA :  " Whether or not it is clear to you,  no doubt the universe  is unfolding as it should..."   ( Que esteja claro ou não para você,  sem dúvida  o universo está se desenrolando como deveria...) 

Uma parte de mim,  lá no fundo,  já devia saber que aquele texto,  aquela igreja e aquela cidade,  um dia estariam muito mais ligados à mim do que eu jamais poderia imaginar.

Não era uma coincidência  e sim o meu  destino!  :-) 

 

Afinal  a estória de DESIDERATA não passou de um grande engano. 

  O autor se chama Max Ehrmann e escreveu o texto  nos anos 1920.  O mal entendido ocorreu quando o pastor da igreja de Baltimore , nos anos 50 , resolveu fazer uma cópia do texto para entregar aos fiéis e  no topo da folha estava escrito o nome da igreja e sua data de fundação ( 1692) . Então passou-se a acreditar que esta era a data do escrito  e que este  era de autoria desconhecida. 

 

Em 2003,  o ano que cheguei aos E.U.A. ,  quando visitei meus sogros pela primeira vez na cidade de Baltimore , fiz questão de ir conhecer a tal igreja.  Foi uma espécie de peregrinação.

O pastor me disse que ainda hoje é muito comum muitos fãs de DESIDERATA , muitos deles turistas estrangeiros, irem à Old St.Paul's Church acreditando na velha lenda da origem misteriosa do texto.  O lugar acabou virando atração turística! lol

 

  ( A atual construção é de 1856)

 

E agora, o texto original e completo - para  aqueles que quiserem  se inspirar e acreditar que um dia  as coisas podem sempre mudar...para melhor. :-) 

 

" Go placidly amid the noise and haste,  and remember what peace there may be in silence.  As far as possible,  without surrender, be on good terms with all persons.  Speak your truth quietly and clearly, and listen to others,  even the dull and the ignorant;  they too have their story.

Avoid loud and aggressive persons;  they are vexatious to the spirit.  If you compare yourself with others, you may become vain or bitter, for always there will be greater and lesser persons than yourself.

Enjoy your achievements as well as your plans.  Keep interested in your own career,  however humble; it is a real possession in the changing fortunes of time. 

Exercise caution in your business affairs, for the world is full of trickery. But let this not blind you to what virtue there is; many persons strive for high ideals, and everywhere life is full of heroism.

Be yourself. Especially do not feign affection.  Neither be cynical about love, for in the face of all aridity and disenchantment,  it is as perenial as the grass.

Take kindly the counsel of the years ,  gracefully surrendering the things of youth.

Nurture strength of spirit to shield you in sudden misfortune.  But do not distress yourself with dark imaginings.  Many fears are born of fatigue and loneliness.

Beyond a wholesome discipline,  be gentle with yourself. You are a child of the universe no less than the trees and the stars;  you have a right to be here.

And whether or not it is clear to you, no doubt the universe is unfolding as it should. Therefore ,  be at peace with God, whatever you conceive HIM to be.

And whatever your labors and aspirations, in the noisy confusion of life, keep peace in your soul.  With all its sham, drudgery and broken dreams, it is still a beautiful world. Be cheeful. Strive to be happy. "

 

                             Max Ehrmann

 

 

 

Vida ideal

Pâmelli, 01.07.08

     

 

Viajar é bom.

Passar uma temporada no exterior -  a estudo ou trabalho-  é muito bom.

Conhecer coisas, culturas e pessoas diferentes;  aprender um outro idioma;  melhorar os próprios conhecimentos de geografia;  descobrir novas delícias culinárias;  rever a história;  aprender a ser mais tolerante ...São milhares as vantagens de se  passar algum tempo fora do próprio país. 

O único problema é a consequência disto tudo a longo prazo :  o choque cultural e as inevitáveis comparações que se seguem...

 

Quem nunca viajou nem nunca saiu do próprio buraco onde nasceu,  normalmente acha que aquele lugar é o centro do universo;  o melhor lugar do mundo.  São os famosos 'ignorantes felizes' :-) .   Não deixa de ser uma vantagem. 

Como nunca viram ou experimentaram nada de novo, nem melhor nem pior do que o que já estão acostumados,  não têm base para comparar ou analisar nada -  portanto jamais vão sentir falta daquilo que não têm nem nunca tiveram.  

Por outro lado,  as pessoas que viajaram  muito...Que passaram algum tempo fora ,  frequentemente se vêem comparando coisas,  lugares,  comportamentos etc...nos diferentes países  por onde passaram .  O  resultado é que nunca ficam totalmente satisfeitas em lugar algum pois sempre se lembram que 'algo alí'  é melhor do que 'algo aqui'  e vice-versa. 

 É duro ser cosmopolita! :-))

 

As pessoas costumam sempre ter os seus lugares favoritos ;  aqueles  que admiram e  com os quais  se identificam   mais.  

Comigo , este lugar sempre foi a França ( apesar de que sei que nem tudo por lá  é perfeito ...) .  Aliás,   ao contrário da maioria das pessoas,  até mesmo dos FRANCESES eu gosto!!  LOL

Isto se deve ao fato de que a França engloba e representa ( ao meu ver)   tudo o que existe de melhor no mundo :   cultura,  bom gosto, requinte, comida sofisticada, elegância, cosmopolitismo, história, arte, moda, literatura , liberalismo e tambem um certo 'individualismo'  ( afinal eu sou aquariana e filha única! lol)  ,  principalmente em Paris onde ,  cada um é o que é ... E ninguem tá nem aí! :-))

 

Nos E.U. eu gosto principalmente de duas coisas:  as pessoas e a segurança nas cidades. (ao contrário da maioria das pessoas que gostam da modernidade, da tecnologia, de tudo MEGA...- mas eu sempre fui diferente da maioria .  É a minha sina...:-))

Apesar de não serem nem sofisticados , nem charmosos ( com algumas exceções , é claro...)  ,  os americanos são geralmente agradáveis, risonhos, bem humorados e  bem resolvidos.  Apesar de muitos serem gordos, mal vestidos e brega,   raramente são complexados ou invejosos (  como é o caso de  muitos brasileiros...)  Em suma:  emanam um bom astral porque são  basicamente FELIZES!  

Ah...... e a segurança nas cidades americanas ?

Isto,  para alguem que veio do Brasil,  e ainda por cima do Rio de Janeiro...é uma benção!  Poder simplesmente sair às ruas,  de dia , à noite,  de carro,  à pé...Ir ao parque , morar  em um lugar sem cercas, sem câmeras de segurança, sem guaritas...Poder  parar no sinal de trânsito  às duas da manhã ,com a maior calma... Tomar o ônibus ou o bondinho até o centro da cidade  sem preocupação ...E isto tudo  em uma cidade grande!  

  Aqui só não trabalha quem não quer.  Há emprego e espaço para todos.  Pelo menos ainda...

 

 E no Brasil?? 

Eu gosto principalmente da vida de 'burguesa' ( é isto mesmo !) ,  que qualquer pessoa classe média pode se dar ao luxo de levar por lá . 

  Sim,  isto se deve ao fato de que os salários são mais baixos do que no Primeiro Mundo,  mas ao mesmo tempo,  é um grande erro ( e egoísmo!)   o que muitos estrangeiros fazem ao se mudar para o Brasil:  se recusam a usar os serviços bons e baratos das faxineiras, manicures, cabeleireiros, motoristas etc... Pois afinal estas pessoas PRECISAM de seus empregos !  Portanto é ridículo não usar seus serviços com a desculpa de que ' é um tipo de exploração capitalista selvagem ...'  ou então " eu mesmo posso fazer isto,  então porque vou pagar alguem para fazê-lo pra mim" ? 

  Pura demagogia -  aliada à uma boa dose de  PÃO DURISMO mal disfarçado -   isto é que é!!

 

Do Brasil tambem sinto falta da boa comida (tão variada, colorida e bem apresentada...) ,  assim como da irreverência e do bom humor ( ou o que restou dele...)  , principalmente do carioca.

 

Alguns lugares onde vivi ou passei alguma temporada foram bastante agradáveis ( Portugal),   únicos e especiais em vários sentidos ( França)  ,  relaxantes ( Costa do Sol , no estado do Rio),  desagradáveis ( Alemanha) ou deprimentes ( interior de Minas). 

  Sendo assim,  e depois de tantas experiências de vida em lugares tão diversos,  eis o que eu escolheria , se pudesse, como 'a combinação de coisas perfeitas para uma existência quase perfeita... " :-)))

 

Residência oficial :  de preferência no sul da França ( requinte , descontração e segurança na medida certa !)

Amigos: de diversas nacionalidades

Marido:  americano ( são os mais bem humorados, generosos e menos galinha...:-)))

Empregados :  profissionais brasileiros (  sendo que o cozinheiro seria  franco/brasileiro...:-))

Férias:  Europa ocidental e Brasil ( para rever os amigos e a família) ; ocasionalmente Nova Iorque...

 

O único  senão:   o estouro do orçamento!!  ( É,  para se ter a 'vida perfeita' , seria preciso tambem se ter a 'conta perfeita' ...lol   Uhm...que pena.

 

Enfim...Na falta do pacote completo , eu optei pelo marido americano,  a segurança ao morar nos E.U., aprendi a cozinhar  pratos franceses e brasileiros, vou à França sempre que dá,  viajo ao Brasil uma vez por ano e....simplesmente tive de abrir mão dos empregados e profissionais brasileiros!! 

 

E você heim?  Qual seria o SEU ideal de vida??

 

   

 

 Fui...

Num deu pra aguentar!

Garotinho, Benedita, Rosinha, Beira-Mar e uma chuva de balas perdidas...

Qualquer hora uma me acerta!

Qual é?

Pega outro pra Cristo!!!!

 

 

 

Mais um clássico da Bossa...

Pâmelli, 13.06.08

E já que estamos na semana do Dia dos Namorados,  nada melhor do que um clássico da Bossa Nova -  " O Barquinho" ,  de 1961 ,  composto por  Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal e  cantado por Nara Leão.  

  De quebra,  belas e românticas imagens do Rio  (  sorry,  mas nada de  glorificar favelas e popozudas no MEU  blog ! )

 

   Pra mim,  a  Bossa Nova é o verdadeiro espírito do carioca da gema (  e não do carioca DEGENERADO ,  - personagem cada vez mais conhecido na mídia hoje em dia ...  )   :  leve, irreverente, sensual...

  Simplesmente adoro a voz da Nara,  com seu sotaque tão carioca, que tem tudo a ver com a Bossa  Nova ...  E o Menescal e o Bôscoli, heim?  Quem diria que escreveram esta pequena pérola  enquanto esperavam o reboque depois que o seu barquinho quebrou durante uma tarde de pescaria??!

 

 Tarararara...Tarararara... Isso era  o barulho do motor , que os rapazes tentavam  em vão fazer pegar .  Tara- tara ,  tara-tara ,   tata,  tarararara...tata ...tarararara!!  ( foi o que ouvi o Menescal contar  em uma entrevista durante o show ' Bossa Entre Amigos.'..)

E foi  esse barulho irritante que acabou virando o refrão maravilhoso  da música !

 

Enjoy...