Todo o mundo que tem um blog já deve ter recebido alguma vez um hate-mail - um comentário ou e-mail indignado com algo que o blogueiro escreveu, e a pessoa no caso , ou porque discorda inteiramente do ponto de vista e sentimento do autor , ou porque se sente de alguma forma pessoalmente atingida e ofendida, resolve escrever uma série de insultos, provocações ou baixarias contra ele em seu próprio blog.
Os hate-mails são bem mais comuns e frequentes na blogosfera do que se imagina e uma pessoa excessivamente sensível ou que necessite da constante aprovação dos outros, não é a pessoa mais indicada para abrir um blog.
Existem, é claro, aqueles blogs que só falam de amor, beleza, amizade, bondade etc.. , além de desfilarem todas as qualidades humanas ( principalmente as do próprio autor). Estes costumam ser muito populares pois são o que poderíamos chamar de 'feel-good-blogs' - aqueles que fazem as pessoas sentirem-se bem consigo mesmas, especiais e vivendo em um mundo melhor.
Existem tambem aqueles 'deprimidos' , que inspiram a compaixam alheia e, ( por que não?) , por relatarem tantas desgraças, decepções amorosas e injustiças sofridas pelo blogueiro, acabam mais uma vez fazendo com que seus leitores se sintam 'superiores' ou ,ao menos, menos infelizes do que o próprio autor .
É meio como os turistas estrangeiros que fazem city-tours nas favelas cariocas: passadas suas férias nos 'trópicos sub-desenvolvidos', eles costumam voltar para suas cidades geladas e limpíssimas sentindo -se bem melhor com a mediocridade de suas próprias vidas , e pensam :
'Poxa, até que minha existência não é tão ruim assim...'
Finalmente, existem os blogs que volta e meia aparecem com um post mais provocador ou polêmico e são estes os que costumam receber os hate-mails .
O 'Parada Essencial' , como se pode imaginar, pertence a este terceiro grupo e naturalmente já recebeu alguns not so friendly comentários ou e-mails ao longo de sua estória de quase um ano ...:-))
Sim, eu não escrevo somente sobre viagens, gastronomia, cinema e cultura por aqui.
De vez em quando tambem escrevo ( aliás, desabafo!) sobre algo que me incomoda muito; algo que me irrita, que considero como sendo completamente idiota , sem propósito ou absurdo. Coisas que eu gostaria que não existissem no mundo , ou que fossem diferentes ( principalmente no Brasil) .Estes desabafos são o que os americanos chamam de rants.
Uma coisa que logo percebi, é que existem dois tipos de rants que costumam ser muito mal recebidos por muita gente : aqueles em que se fala da ignorância e boçalidade de certas pessoas ( portanto considerados 'arrogantes' ...) e aqueles que fazem algum tipo de crítica ao próprio país ( portanto considerados 'anti-patrióticos' e consequentemente tambem arrogantes! ) lol
É aí que algumas destas pessoas , sentindo-se diretamente atingidas, resolvem retaliar e então, apossam-se do arsenal dos 'comentários' e abrem fogo contra o blogueiro.
O problema é que muitas delas são realmente muito ruins de pontaria e no meio de sua ira e descontrole mental , acabam atirando para todos os lados, as vezes até mesmo atingindo por engano um galho ou telha que se encontra por perto e que acaba fatalmente despencando em cima de suas próprias cabeças! O resultado é um misto do patético , do ridículo e do cômico.
Esta semana , por exemplo, recebi um comentário indignado de uma leitora sobre um post bastante polêmico que escrevi em setembro do ano passado ( 'Arsenal para viajar para a Europa com passaporte brasileiro' ), onde não apenas descrevo todos os sufocos ( reais!!) pelo qual um brasileiro costuma passar quando viaja ao exterior com o seu passaporte 'verdinho' , mas vou além e questiono mesmo de onde vem aquele famoso 'Orgulho de ser brasileiro' de que tanto ouvimos falar.
Foi aí que a pessoa em questão subiu nos tamancos, rasgou o sutiã , rodou a baiana e desandou a me agredir pessoalmente.
Naturalmente, tratava-se de uma brasileira 'muito patriota' , com 'um imenso amor e orgulho por sua pátria' e é claro, com muita pena de mim por eu ser assim 'tão pobre de espírito e vazia.'
E não. Eu não retirei o comentário do blog pois afinal o nível da linguagem da moça não desceu àquele dos morros cariocas , e no final das contas , nem todo o mundo é obrigado a concordar com o que escrevemos por aqui .
Além do mais a autora do 'Parada' reside nos E.U. , que felizmente é um país REALMENTE democrático e onde a primeira emenda da Constituição é devidamente respeitada. Ou seja: Todos são livres para dizer o que pensam.
Na verdade eu não tenho problemas com críticas - mesmo as mais absurdas e ridículas- e talvez isto seja até mesmo uma forma de 'arrogância' de minha parte.
O fato é que eu sei o que sou e , ao contrário das conclusões da pessoa em questão, tenho sim, muito orgulho ( novamente correndo o risco de parecer arrogante...) de ser o que sou : Pâmelli - a pessoa , o indivíduo - independente do lugar onde nasci e de quais sejam as opiniões e sentimentos ( positivos ou não, 'patrióticos' ou não ...) , que possa ter deste mesmo lugar.
Eu nunca acreditei que ninguem fosse 'obrigado' a amar e se orgulhar do próprio país ; assim como tambem não acredito na 'obrigação moral' de se amar e se admirar os próprios pais. Isto é coisa para quem sofreu lavagem cerebral religiosa e não costuma questionar nada.
Eu, ao contrário, sempre acreditei no amor e na admiração por merecimento e se algo ou alguem não me inspira nenhum destes sentimentos, não vai ser fingindo sentí-los que me tornarei uma pessoa melhor.
Mas voltando à minha leitora indignada...
O que eu achei especialmente intrigante no seu pequeno parágrafo em que comenta o meu post ( onde , aliás, ela faz uma interessante análise de meu caráter e me dirige os mais diversos insultos pessoais em um tom ao mesmo tempo superior e condescendente ... ) foi a inconsistência de suas próprias afirmações:
Por um lado ela afirma seu 'imenso orgulho e amor à pátria' ( o Brasil); por outro, me informa que trata-se de uma arquiteta poliglota, muito viajada e competente, já tendo vivido em vários países e agora residindo e trabalhando 'para uma importante firma de arquitetura na França...'
Do you get my drift?? :-) Foi esta parte final que eu achei a mais interessante.
Ora, eu me pergunto, por que é que uma pessoa TÃO patriota, TÃO orgulhosa e TÃO apaixonada pelo próprio país, escolheria de viver e trabalhar fora dele!!?
Não seria uma demonstração muito maior de seu 'amor e patriotismo', se ao invés de estar projetando casas, hospitais, escolas, prédios etc.. na França, ela estivesse fazendo isso PARA O POVO BRASILEIRO , em seu próprio país ? - E , sobretudo, deixando o DINHEIRO dos seus impostos ( que , suponho eu, devem ser bem altos já que se trata de uma pessoa tão bem sucedida !!) em seu próprio querido e adorado Brasil??
A verdade é que o dia em que eu encontrar um brasileiro que , tendo a opção de viver e trabalhar fora, ( onde os salários são bem melhores e as condições de vida e segurança pública idem...) , ainda assim escolha de ficar no Brasil...
Alguem que diga : 'Eu não me importo de pagar mais impostos pois quero que o meu país ofereça melhores escolas, hospitais , transportes e segurança pública à todos os brasileiros...'
Que faça trabalho voluntário pelo menos uma vez por semana e doe parte do seu dinheiro para várias instituições locais ...
No dia em que eu conhecer esta pessoa, eu realmente acreditarei no seu genuíno ' Orgulho e amor ' pelo Brasil.
Até lá, ( e para o bem da velha França...) , só espero que a leitora que comentou no blog esta semana seja BEM melhor arquiteta do que psicóloga, já que sua análise e conclusão a meu respeito infelizmente deixaram muito a desejar...
P.S. E a propósito: o blog continua aberto aos comentários e mesmo as críticas.
Estou sempre disposta a ouvir opiniões , inclusive aquelas diferentes das minhas - desde que expostas com um mínimo de educação e civilidade.
No entanto, por via das dúvidas ( e como perto de cem pessoas costumam passar por aqui todos os dias... :-) , de agora em diante farei como alguns de meus colegas aqui na blogosfera: os comentários aos posts estarão sujeitos à aprovação do autor antes de serem publicados.