O banco
Faz 6 anos que mudei para os E.U.A. e , portanto , que não 'frequento' mais, um banco brasileiro. Mas hoje de manhã tive de ir ao Unibanco de Copacabana para fazer um depósito na conta de uma pessoa.
Penso que minha 'experiência' lá e impressões , é algo que merece um post...
A primeira coisa que distingue uma agência nos Estados Unidos de uma no Brasil é o 'ritual' da entrada no banco.
Enquanto que na terra de Obama é só empurrar a porta de vidro e entrar no estabelecimento, na de Lula é preciso , ao passar pela porta giratória , se despir de todo e qualquer objeto metálico ( celular , chaves, cintos, etc..) ou de maior volume ( tipo guarda-chuva...) - sob pena de ficar entalado na porta, sem conseguir entrar nem sair!
Bom, passei sem maiores problemas ( já que tinha deixado o celular no Texas, estava de vestido ( sem cinto!) e sem guarda-chuva...
Então, logo após minha entrada triunfal na agência do Unibanco , o que eu vejo?
Que a 'área de atendimento aos clientes' é formalmente dividida em três partes distintas:
1) a fila dos 'Caixas Uniclass' - quer dizer, daquelas pessoas com uma conta um 'pouco mais recheada' e que portanto têm um cartão especial...
2) a fila dos 'Caixas' simples - ou seja, a dos pobretões ( aonde eu tive de entrar para fazer o depósito , já que não sou cliente do banco..)
3) a fila dos 'idosos, das gestantes e dos deficientes físicos'...
Naturalmente, TODAS estavam cheias - sendo que a dos pé-rapados era bem maior que as outras.
(Just my luck!)
Dos três grupos de filas, o único que tinha umas três cadeiras ( no canto ) era a dos idosos. Já o pessoal nas outras duas filas ( o grupo dos pobretões e o dos 'bem de vida' ...) era obrigado a aguardar em pé até sua chegada ao caixa.
(Ao menos tive a idéia de levar minha VEJA para me distrair. )
Resumo da Ópera:
Foram exatamente 30 minutos ( que depois, ao me informar com minha tia e minha mãe, fiquei sabendo ser 'pouco tempo ' em se tratando de uma ida ao banco...) esperando na fila.
30 minutos nos quais eu pude ler ( em pé) TODA a entrevista com a Marina Silva nas páginas amarelas da Veja , um ensaio do Veríssimo e mais outro do Claudio de Moura Castro , convenientemente intitulado ' Malandros e Manés' ( ou algo assim...)
Foi então que, de repente, entre uma leitura e outra, comecei a observar as funcionárias nos caixas.
Havia umas 8 na agência, ao todo .
A primeira coisa que notei foi que TODAS deviam ter mais ou menos a mesma idade: no máximo 25 anos.
Foi aí que percebi que TODAS eram magras, atraentes, bem vestidas , maquiadas e com o cabelo 'bom' ( o que no Brasil quer dizer LISO...) e a pele perfeita ( sem uma única mancha ou marca de acne...) !
( Ok, havia uma com uma bela cabeleira ruiva , de cachos suaves e muito bem tratados...)
Então me lembrei dos anúncios de oferta de emprego que costumamos ler nos classificados dos jornais no Brasil. Anúncios mais ou menos assim:
´ Vaga tal.. em tal lugar...
Exige-se ótima aparência . ( termo genérico , mas que em geral quer dizer 'branca, magra e de 'cabelo bom'...) Até 25 anos...'
Detalhe: É interessante notar que nos Estados Unidos a parte da 'boa aparência' , em um anúncio de emprego , já seria algo totalmente inaceitável e ilegal. A outra coisa é que lá , quando se envia um currículum à uma empresa, NÃO SE PÕE a data de nascimento do candidato! Ninguem exige isso . O que importa são as qualificações e experiência da pessoa para o trabalho para o qual está se inscrevendo.
Mas voltando à agência do Unibanco...
Não creio que fosse mera coincidência que todas aquelas moças tivessem todas aquelas características físicas. Nenhuma gordinha. Nenhuma com mais de 35 anos. Nenhuma sequer com o cabelo mais crespo ou uma marquinha de espinha no rosto!
Então , à um certo momento, na fila ao lado ( a dos idosos), começou um tumulto.
Uma senhora que estava sendo atendida reclamava que a moça tinha lhe dado uma nota a menos. A moça educadamente replicava que tinha tirado a quantia da máquina, e que esta, tinha certeza, estava certa. Os idosos já começavam a reclamar da demora e uma delas dizia à cliente do caixa que 'devia ter contado o dinheiro logo, pois a fila precisava andar'...'
Por fim a minha vez chegou e pelo menos a moça do caixa era rápida.
Dois minutos e eu já estava do lado de fora na Nossa Senhora de Copacabana.
Enquanto seguia pela avenida, lembrei do meu banco na América, com sua agência quase vazia. ( Na fila dos caixas há no máximo 2 ou 3 pessoas, pois os americanos não pagam contas nos bancos e costumam fazer a maioria de suas transações bancárias pela internet...)
Lembrei-me do 'Good Morning! Welcome ! ' que recebo do funcionário logo à entrada de minha agência.
Da mesa do café e das pipocas oferecidas aos clientes.
Guardas na porta? Dentro ou fora da agência?
Simplesmente não há! É sério. O banco NÃO TEM guarda nenhum!
Isto é o que eu chamo de um reality check e tanto...