Cada macaco no seu galho
Eis um ditado muito brasileiro, muito popular e muito verdadeiro!
E esta semana eu tive mais uma prova disto.
Outro que eu tambem gosto é o que fala em ' atirar pérolas aos porcos...'
As duas imagens extremas - a das 'pérolas' e a dos 'porcos' ( com todo o respeito pelo suíno, que quando novinho é até muito bonitinho ...:-) são perfeitas.
Mas afinal , do que é que estou falando?
Estou falando de quando uma pessoa , de repente, se vê em um ambiente totalmente ERRADO ( nota: errado para ELA, mas não necessariamente ruim em si...), rodeada de elementos que não apenas não a enriquecem intelectualmente e complementam espiritualmente , mas pior , que lhe desgastam, lhe desagradam, lhe empobrecem o espírito, lhe irritam e deprimem!
Imaginemos por exemplo umas folhas de manjericão - bem verdinhas e fresquinhas, com aquele cheiro gostoso e tão característico da planta.
É o complemento perfeito para uma salada de tomates e muzzarela ( a famosa 'salada caprese' ); ou quem sabe simplesmente cortadas em tiras fininhas e salpicadas sobre um belo prato de ravioli ao sugo? Definitivamente o casamento perfeito!
Mas se pusermos aquele mesmo manjericão sobre um prato de feijão com arroz...Ou quem sabe, sobre uma bola de sorvete de creme...EEEECA!
Que combinação mais desgraçada. E o pior: a infeliz associação vai acabar por estragar o gosto do arroz e feijão , assim como o do sorvete !
Pois então. Para continuar com a metáfora culinária...
Esta semana o manjericão ( Eu! lol) de repente me vi em dois lugares diferentes e no primeiro ( que chamaremos do 'Feijão com arroz' ) minha visita foi um fiasco total. Já no segundo ( que chamaremos de ' Ravioli ao sugo' :-)) o encontro foi extremamente agradável , além de proveitoso.
No primeiro caso eu tinha um encontro marcado com a dona da única loja brasileira que existe em nossa cidade. ( Trata-se de uma espécie de ' mercearia chique' , já que o lugar vende um pouco de tudo o que os brasileiros gostam, usam e costumam sentir falta quando estão no exterior. Coisas como pão de queijo, farinha, arroz e feijão de marcas brasileiras, requeijão, guaraná, bombom 'Sonho de Valsa' e é claro, café brasileiro! ( Na América 90% é colombiano...:-(
Além de alguns artigos de bijuterias, C.D.s de cantores brasileiros, produtos do Boticário e Natura, biquínis e havaianas...)
O propósito do encontro era para discutirmos sobre a venda de meu livro na loja ( afinal se trata de um 'romance brasileiro' :-)) e um possível coquetel que ofereceríamos para a divulgação do 'produto'...
Bom, pra começar a dona ( que me conhece) se esqueceu do compromisso que tinha marcado comigo e não apareceu na loja! Então, após se desculpar pela gafe por telefone ( e eu já na loja!) a figura me pede para falar com uma de suas vendedoras - Mais precisamente a 'mocinha do caixa' , sua sobrinha e segundo ela: 'a pessoa encarregada de toda a parte de marketing da loja. '
Ah , eu adorei esta parte do ' marketing da loja' ...
Dá para imaginar o diálogo que se seguiu?
Por um momento cheguei a me sentir a própria feirante , tentando vender mais um saco de 'Arroz Tio João' ou ' farofa Yoki' para sua loja!
A moça, que na melhor das hipóteses deve ler as fofocas da revista 'Contigo' ou folhear as fotos dos ricos e famosos na 'Caras' , ao me ouvir falar sobre o projeto do lançamento do livro, só me olhava com uma expressão de total tédio e desinteresse.
Afinal, após uma 'entrevista' de uns dez minutos, ( em pé ao lado do caixa) , deixei a 'mercearia chique ' convencida de que havia perdido meu tempo e gasto minha gasolina e latim a toa! Que pobreza.
Bem, este foi o encontro do 'Manjericão com o Feijão com Arroz' ... :-(
Então hoje lá fui eu , agora para um outro encontro - desta vez com um dos coordenadores do Brazil-Center de Austin.
Há alguns dias atrás eu havia lhe enviado um e-mail lhe falando sobre meu projeto - ao que ele não apenas respondeu prontamente, mas me convidou para um café da manhã hoje com alguns membros do Center.
O Brazil-Center costuma promover vários eventos culturais na cidade - desde palestras, filmes, exposições ...inclusive a maldita festa do Carnaval , que eu tanto odeio.
Pois bem. Depois do fiasco de ontem, foi com o pé atrás que segui para o café no campus da Universdade do Texas, onde o grupo se reuniria para o breakfast hoje de manhã.
Mas alí a coisa se passou de maneira MUITO diferente!
O coordenador, ao se inteirar melhor do assunto do livro , logo se entusiasmou e já se prontificou a marcar um evento para o lançamento , assim que o livro estiver publicado.
O rapaz , que faz mestrado em arte e educação na Universidade do Texas, me contou sobre seu trabalho no Museu da Chácara do Céu quando ainda estava no Rio . Discutimos sobre Picasso e Portinari , assim como o roubo que ocorreu no museu há algum tempo atrás.
De meu lado direito uma estudante de arquitetura , original de Porto Alegre , acabava de chegar de sua aula de tênis no campus. Do outro, um professor americano de Statistics , simpático e falando português muitíssimo bem, me contou sobre a enorme comunidade de pescadores portugueses que existe em sua cidade natal - San Diego. O Professor mostrou-se igualmente interessado no projeto do livro e no final convidou a todos os presentes para um almoço em sua casa no sábado. Havia ainda uma socióloga , recém chegada de São Paulo ( uma de suas alunas na universidade) , um psicólogo de Belo Horizonte , atualmente fazendo o seu mestrado e uma moça de São Francisco, formada em Latin American Studies e fluentíssima em português. Todos simpáticos, todos animados e muito preparados!
Em suma: o café da manhã foi muito agradável, meu encontro com o coordenador do B.C. muito proveitoso e eu saí dalí com a alma e o espírito leve e enriquecido.
Ou seja: O encontro do manjericão com o ravioli al sugo foi uma ótima combinação e aqueles dois velhos ditados nunca me pareceram tão verdadeiros.
Enquanto caminhava pelo campus de volta ao meu carro no estacionamento eu pensava:
"Ontem eu atirei pérolas aos porcos. Hoje a estória foi outra."
Cada macaco no seu galho...