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Parada Essencial

Benvindos ao "Diário politicamente incorreto da Pâmelli" - uma brasileira/americana childfree, residente nos E.U.A. desde 2003 Viagens, cultura, desabafos e muito mais!

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Uma noite na ópera- programa bom em má companhia...

Pâmelli, 16.11.08

 

E como ninguem é de ferro,  ontem fui assistir à ópera 'Cinderella'  no Long Center ,  que fica a apenas 5 minutos aqui de casa.

 

O novo teatro de ópera e balé aqui de Austin é muito bonito ( bem moderno)  e foi inaugurado no começo deste ano. 

 

Neste fim-de-semana,  como meu marido foi  visitar seu pai  em Baltimore  , na costa leste,  (  No começo do ano  ele passou por uma cirurgia bastante delicada de coração...) e eu resolvi ficar por aqui mesmo ( Voar é algo que sempre me estressa ,  ainda mais se fôr apenas por um final de semana !), aproveitei para ir ver a ópera de Rossini com uma amiga,  digo, uma conhecida.

 

Desde sua inauguração ,  o Long Center já encenou  'Carmem'  de Bizet ,   (  ver post  :  'A Paixão por Carmem e o epicurismo' ,  de 2 de maio...) ,  'The Bat'  ( O Morcego)   de Strauss ,   e agora 'Cinderella' ,de Rossini !

Como dá para perceber,  eles tentam intercalar obras do repertório clássico com algo mais 'contemporâneo' -  para não dizer 'americano' . :-)

 

 

Eu sempre gostei de contos de fadas.  De histórias românticas e com o final feliz. 

Não é a toa que Jane Austen é minha autora preferida e 'Pride&Prejudice' ( Orgulho e Preconceito)  meu livro de cabeceira  ! lol

 

Nesta produção de 'Cinderella' , a  estória da Gata Borralheira foi transportada para a Hollywood dos anos 30.  O 'príncipe' é um produtor famoso  a procura de sua 'musa inspiradora',  o padrasto  mau caráter da moça é um dono de teatro falido e as suas  irmãs mocréias ,  duas  'aspirantes à atrizes' , que naturalmente gostariam de dar o golpe no produtor !

 

Na verdade eu teria preferido a estória  original -  a do castelo na Idade Média :-)),   do príncipe a cavalo,  da abóbora transformada em carruagem e  do baile no palácio...

Não fiquei tampouco  incrivelmente impressionada com os cenários-  na verdade achei-os meio 'pobres'  e com muito pouco glamour .   Afinal  era para estarmos em plena Vaudeville Hollywoodiana !

A música de Rossini tambem achei extremamente medíocre -  mas a 'Cenerentola' ( Cinderella, em italiano) ,  encenada pela primeira vez em 1817 em Roma  , não é , de qualquer forma, considerada a obra prima do compositor.  ( O 'Barbeiro de Sevilha' , sim! )

Apesar de tudo,   fiquei realmente impressionada com a mezzo -soprano no papel título.

Que voz maravilhosa e que técnica extraordinária !  A moça deixou todo o resto do grupo no chinelo!!

Chama-se Sandra Piques Eddy ,  é original de Massachusetts e já estrelou em papéis títulos na Ópera de Chicago e Nova Iorque, entre outras.

 

 

De uma maneira ou de outra,  ir ao Long Center para mim é sempre um enorme  prazer.

Adoro aquela construção moderna     ( tem algo de Niemeyer...)  ,  com a vista do skyline da cidade.

 

Adoro ver as pessoas , for once,  bem vestidas e produzidas -  coisa cada dia mais rara hoje em dia,  até mesmo em Paris ...- o que dirá de Austin, que é conhecida no Texas como  'a cidade mais 'natureba , informal e despretenciosa que há  ...' - principalmente quando comparada à Houston ou Dallas !

 Por fim, adoro todo aquele ritual de chegar ao teatro,  tomar um drinque no bar,  admirar a vista  panorâmica do centro da cidade já iluminado ,  sentar-me em meu lugar e começar a ler o programa com a sinopse do espetáculo.

Felizmente meu marido tem sensibilidade o  bastante para apreciar este tipo de espetáculo sem se sentir 'torturado' :-))  Ainda bem !   Eu jamais poderia ter me casado com um philistine...

É nestes  momentos que  eu me sinto como a  própria Julia Roberts indo à opera com o Richard Gere  no filme "Pretty Woman"!   

 

Mas não ontem. 

É que minha amiga  ( ou melhor,  conhecida...)   C. ,   não é das pessoas mais animadas para se sair ,  mas como havia cruzado com ela na última vez que estivemos no Long Center , resolvi chamá-la para ir comigo à opera . 

Infelizmente,  acho que no final teria feito melhor em ir sozinha!   

 Pra começar,  senti-me um pouco 'culpada' já que nos sentamos em lugares diferentes -  o meu era na fileira A e o dela na L , e portanto muito mais afastado do palco.

Como ela mora longe,  convidei-a para dormir lá em casa depois do espetáculo. 

Antes de saírmos, fazemos uma 'boquinha' ,  pensei. 

Comprei então um Prosecco, um queijo italiano e umas azeitonas gregas para degustarmos antes de saírmos para a ópera. 

Então descobri que ela não bebe -  NADA !

Para completar, ela chegou  lá em casa quase em cima da hora de sairmos para o teatro pois estava vindo direto do trabalho.  Acabamos saindo sem jantar e deixamos para comer na volta . (  O resultado foi que durante o segundo ato meu estômago já estava 'cantando' quase tão alto quanto a soprano!)

 

11:00 pm  e chegamos em casa. 

Já que  beber Prosecco sozinha não é tão agradável quanto quando se tem companhia..., fizemos um lanche de baguete, queijo, brioches e chá de limão com gengibre.

( Eu concluí que  aquela hora da noite ela não beberia chá preto...)

 

Como na manhã seguinte  C. iria acordar cedo para fazer uma aula de ioga, eu lhe disse:

 

-Provavelmente vou estar dormindo quando você sair.  Vou deixar o café com a água  já  na cafeteira para você tomar de manhã .  É só ligar o botão ...

 

Então sou informada de que C. não toma café ( por causa da cafeína) .  Nunca!

Só chá de ervas... *Suspiro e levantar de olhos*

Aliás,  ela é do tipo que leva o próprio chá natureba pra  tomar na casa dos outros...

 

 

 Definitivamente, o melhor é  mesmo aguardar até domingo à noite  quando meu marido voltar de Baltimore para abrirmos  a garrafa de Prosecco. 

Realmente,  algumas pessoas são  mesmo (  para usar uma expressão  inglesa usada na tradução da ópera italiana de ontem à noite )  : 

  ' Like  champagne without the bubbles... '