Uma noite na ópera- programa bom em má companhia...
E como ninguem é de ferro, ontem fui assistir à ópera 'Cinderella' no Long Center , que fica a apenas 5 minutos aqui de casa.
O novo teatro de ópera e balé aqui de Austin é muito bonito ( bem moderno) e foi inaugurado no começo deste ano.
Neste fim-de-semana, como meu marido foi visitar seu pai em Baltimore , na costa leste, ( No começo do ano ele passou por uma cirurgia bastante delicada de coração...) e eu resolvi ficar por aqui mesmo ( Voar é algo que sempre me estressa , ainda mais se fôr apenas por um final de semana !), aproveitei para ir ver a ópera de Rossini com uma amiga, digo, uma conhecida.
Desde sua inauguração , o Long Center já encenou 'Carmem' de Bizet , ( ver post : 'A Paixão por Carmem e o epicurismo' , de 2 de maio...) , 'The Bat' ( O Morcego) de Strauss , e agora 'Cinderella' ,de Rossini !
Como dá para perceber, eles tentam intercalar obras do repertório clássico com algo mais 'contemporâneo' - para não dizer 'americano' . :-)
Eu sempre gostei de contos de fadas. De histórias românticas e com o final feliz.
Não é a toa que Jane Austen é minha autora preferida e 'Pride&Prejudice' ( Orgulho e Preconceito) meu livro de cabeceira ! lol
Nesta produção de 'Cinderella' , a estória da Gata Borralheira foi transportada para a Hollywood dos anos 30. O 'príncipe' é um produtor famoso a procura de sua 'musa inspiradora', o padrasto mau caráter da moça é um dono de teatro falido e as suas irmãs mocréias , duas 'aspirantes à atrizes' , que naturalmente gostariam de dar o golpe no produtor !
Na verdade eu teria preferido a estória original - a do castelo na Idade Média :-)), do príncipe a cavalo, da abóbora transformada em carruagem e do baile no palácio...
Não fiquei tampouco incrivelmente impressionada com os cenários- na verdade achei-os meio 'pobres' e com muito pouco glamour . Afinal era para estarmos em plena Vaudeville Hollywoodiana !
A música de Rossini tambem achei extremamente medíocre - mas a 'Cenerentola' ( Cinderella, em italiano) , encenada pela primeira vez em 1817 em Roma , não é , de qualquer forma, considerada a obra prima do compositor. ( O 'Barbeiro de Sevilha' , sim! )
Apesar de tudo, fiquei realmente impressionada com a mezzo -soprano no papel título.
Que voz maravilhosa e que técnica extraordinária ! A moça deixou todo o resto do grupo no chinelo!!
Chama-se Sandra Piques Eddy , é original de Massachusetts e já estrelou em papéis títulos na Ópera de Chicago e Nova Iorque, entre outras.
De uma maneira ou de outra, ir ao Long Center para mim é sempre um enorme prazer.
Adoro aquela construção moderna ( tem algo de Niemeyer...) , com a vista do skyline da cidade.
Adoro ver as pessoas , for once, bem vestidas e produzidas - coisa cada dia mais rara hoje em dia, até mesmo em Paris ...- o que dirá de Austin, que é conhecida no Texas como 'a cidade mais 'natureba , informal e despretenciosa que há ...' - principalmente quando comparada à Houston ou Dallas !
Por fim, adoro todo aquele ritual de chegar ao teatro, tomar um drinque no bar, admirar a vista panorâmica do centro da cidade já iluminado , sentar-me em meu lugar e começar a ler o programa com a sinopse do espetáculo.
Felizmente meu marido tem sensibilidade o bastante para apreciar este tipo de espetáculo sem se sentir 'torturado' :-)) Ainda bem ! Eu jamais poderia ter me casado com um philistine...
É nestes momentos que eu me sinto como a própria Julia Roberts indo à opera com o Richard Gere no filme "Pretty Woman"!
Mas não ontem.
É que minha amiga ( ou melhor, conhecida...) C. , não é das pessoas mais animadas para se sair , mas como havia cruzado com ela na última vez que estivemos no Long Center , resolvi chamá-la para ir comigo à opera .
Infelizmente, acho que no final teria feito melhor em ir sozinha!
Pra começar, senti-me um pouco 'culpada' já que nos sentamos em lugares diferentes - o meu era na fileira A e o dela na L , e portanto muito mais afastado do palco.
Como ela mora longe, convidei-a para dormir lá em casa depois do espetáculo.
Antes de saírmos, fazemos uma 'boquinha' , pensei.
Comprei então um Prosecco, um queijo italiano e umas azeitonas gregas para degustarmos antes de saírmos para a ópera.
Então descobri que ela não bebe - NADA !
Para completar, ela chegou lá em casa quase em cima da hora de sairmos para o teatro pois estava vindo direto do trabalho. Acabamos saindo sem jantar e deixamos para comer na volta . ( O resultado foi que durante o segundo ato meu estômago já estava 'cantando' quase tão alto quanto a soprano!)
11:00 pm e chegamos em casa.
Já que beber Prosecco sozinha não é tão agradável quanto quando se tem companhia..., fizemos um lanche de baguete, queijo, brioches e chá de limão com gengibre.
( Eu concluí que aquela hora da noite ela não beberia chá preto...)
Como na manhã seguinte C. iria acordar cedo para fazer uma aula de ioga, eu lhe disse:
-Provavelmente vou estar dormindo quando você sair. Vou deixar o café com a água já na cafeteira para você tomar de manhã . É só ligar o botão ...
Então sou informada de que C. não toma café ( por causa da cafeína) . Nunca!
Só chá de ervas... *Suspiro e levantar de olhos*
Aliás, ela é do tipo que leva o próprio chá natureba pra tomar na casa dos outros...
Definitivamente, o melhor é mesmo aguardar até domingo à noite quando meu marido voltar de Baltimore para abrirmos a garrafa de Prosecco.
Realmente, algumas pessoas são mesmo ( para usar uma expressão inglesa usada na tradução da ópera italiana de ontem à noite ) :
' Like champagne without the bubbles... '