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Parada Essencial

Benvindos ao "Diário politicamente incorreto da Pâmelli" - uma brasileira/americana childfree, residente nos E.U.A. desde 2003 Viagens, cultura, desabafos e muito mais!

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A risada do americano

Pâmelli, 19.04.13

 

Ninguém no mundo dá uma risada igual ao Americano. Pode observar.

 

Estou falando daquela risada forte, alta e espontânea, mas também meio brega e aparentemente exagerada,  que volta e meia ele solta,  em todo e qualquer tipo de lugar. Digo “aparentemente exagerada”  porque para um estrangeiro ela pode de fato parecer meio afetada, mas no fundo , vinda do americano,  frequentemente é 100% genuína.

 

Parece irônico eu  vir  no blog falar sobre “a risada do americano" justamente  em uma semana onde a América sofreu  com dois terríveis e trágicos acontecimentos – o atentado em Boston e a explosão na fábrica de West,  no Texas.  Contudo,  quando colocamos as coisas na sua devida perspectiva , mesmo diante de tragédias nacionais tais como Newtown,  Boston e West...,  (e sem querer minimizar o enorme sofrimento na vida de todos os que estiveram direta ou indiretamente envolvidos nesses eventos),  é preciso lembrar que os Estados Unidos são o quarto maior país em extensão no mundo, com uma população de mais de 330 milhões de pessoas e que, portanto, casos como estes são bastante raros de acontecer.  Afinal , estamos  falando de um lugar maior do que a Europa  inteira! – tirando a Rússia, é claro.

 

 É preciso lembrar disso quando se fala no “número de pessoas assassinadas todos os anos na América”, seja por armas de fogo (que os americanos continuam comprando a torto e a direito...) ,seja por atentados tais como os que ocorreram em Boston ou na escolinha de Newtown, em Connecticut.   O fato é que nos E.U.  ,  ao contrário do Brasil, por exemplo,  50.000 pessoas  NÃO são assassinadas todos os anos ; nem cerca de 200 policiais tampouco.  Nem de muito, muito longe, as estatísticas por aqui chegam perto disso.

 

Mas voltando ao tema do "riso do americano"...

Desde que vim para cá., há dez anos,  isto é uma coisa que logo percebi e sempre me vejo observando nas pessoas. 

O "riso do americano" não é uma coisa exclusiva dos americanos, mas  também  se vê  em muitas pessoas que moram nos E.U. há anos,  e que portando,  já incorporaram algumas características do povo local.  É também interessante notar que ele cruza todas as fronteiras sócio-econômicas da sociedade e pode sair tanto de uma senhora da alta roda,  de um caminhoneiro,  de um estudante de medicina de Harvard , de um  alto executivo, uma astronauta, um senador  ou  um atleta olímpico. Em suma:  é o riso de um povo feliz. {#emotions_dlg.happy}

 

Um exemplo disso ocorreu ontem no meu encontro quinzenal de “Conversation” em francês, onde um dos nossos colegas,  no meio da conversa, de repente soltou uma daquelas risadas estrondosas.  Tratava-se de um jovem indiano que reside nos E.U. há anos;  um rapaz muito bonito, poliglota,  bem sucedido e noivo de uma bela e simpática brasileira ( Imagine!).  Ou seja:  exatamente o tipo do “bem resolvido” que costuma dar este tipo de risada por aqui, lol.

Por um momento nosso grupo de ex-pats ( em sua maioria formado por franceses e alguns outros europeus)   tomou um susto.  Mas as pessoas logo se recompuseram.  Afinal isto é a América,  e eles próprios ,  depois de morarem aqui por tantos anos,  hoje já são bem mais leves, bem humorados e até mesmo sorridentes, do que os seus velhos conterrâneos.

Apesar disso,  assim  como eu,  nenhum deles costuma dar (e provavelmente nunca dará)  aquela risada tipica do americano.   

 

O fato é que  durante  todos os anos que morei e viajei  pela Europa e pelo Brasil, nunca  encontrei gente rindo desta maneira.  Nem mesmo o  brasileiro,  com sua fama de “alegre e folião”, ri como o americano. (Muito menos se ele tiver um certo grau de instrução e educação e gostar de pensar que é “civilizado”, lol).

 

Já o americano, física e culturalmente isolado do resto do mundo (e na maioria dos casos, se lixando para o que não acontece nos E.U. ou esteja diretamente relacionado à eles!),  pouco se importa com o que dizem ou pensam dele (Por exemplo,  que são "gordos, mal vestidos , ignorantes ou sem classe").  Daí que,  volta e meia,  quando está entre amigos, colegas ou  membros da família,  o gringo vai lá e me solta  aquele  CÁCÁRÁ- CÁCÁ !!, em alto e bom tom, para quem quiser (e quem não quiser também...) ouvir.

 

Eu,  mesmo depois de todos estes anos nos E.U. , confesso que  não consigo soltar aquela gargalhada totalmente à la gringa - até porque sempre achei, principalmente a sua versão feminina, especialmente desclassificada. Sinceramente,  algumas  mulheres por aqui  quando riem parecem uma hiena no cio.  Really.  

 

Mas uma coisa é certa:  o riso (ou a falta dele) é o reflexo da alma de um povo,  e o do americano é assim:  forte, alto , espontâneo e, sim..brega! -  às vezes chegando mesmo a ser estrondoso demais  e inadequado no ambiente e local onde a pessoa se encontra. 

Mas este mesmo riso  é também a  marca de um povo genuinamente feliz  (e não apenas da boca pra fora, querendo fazer gênero para o resto do mundo...) . Um povo orgulhoso de ser o que é,  de ter as coisas que tem e de viver no país em que vive,  e que ele realmente acredita ser o melhor lugar do mundo.

Para muitas pessoas pode até parecer o riso do ‘bobo alegre’,  mas no fundo,  é o riso do cara que muitas vezes ,mesmo sendo  "gordo, mal vestido, ignorante  e sem “classe...”,  está muito bem resolvido consigo mesmo.  Para a raiva ou a inveja de muita gente.

 

 

O "Velho Sul" está mais próximo do que pensamos

Pâmelli, 13.04.13

   Hoje venho aqui para escrever sobre um tema bastante “Americano” e   bem contemporâneo:  O dia a dia dos  imigrantes  mexicanos  nos E.U.   

Caramba.  Esta semana  pude ver e ouvir em primeira mão como pode ser difícil ter ascendência  mexicana por aqui – principalmente se você vive no Sul dos E.U. e em especial em uma  cidade como Dallas!

 

A estória que vou contar me perturbou e revoltou  bastante pois me foi transmitida por uma colega do meu curso de Grécia Antiga -  a outra aluna que , como eu,  é umas das old girls , de nossa turma.  (Além de nós duas, tem  também um outro aluno coroa , na faixa dos cinquenta,  com a cara fechada,  sempre tomando  notas na primeira fila e sem falar com ninguém.  Uma pena pois  nós três bem que  poderíamos formar  o  “trio calafrio da  meia-idade” na aula de Professor B...lol)

 

Anyway,  minha colega  E. ,  é filha de pais mexicanos,  já passou dos 35 e estuda na Universidade do Texas há dois anos.  Seu  Major é  “Estudos Europeus” e ela tem uma bolsa integral, além de ajuda financeira para estudar  - o que significa que só pode ser  boa aluna.

E. veio para os E.U . com seus pais quando tinha 5 anos ; daí que  fala inglês perfeitamente e sem sotaque.  Na U.T. ela também estuda português,( que já fala muito bem) , além, é claro,  do espanhol.   

Ontem  combinamos de almoçar juntas após a aula e foi durante nossa longa conversa que ela me contou um pouco sobre sua vida aqui nos E.U.,  na cidade de Dallas , onde cresceu e morou até se mudar para Austin , dois anos atrás. 

Cá entre nós… Nunca fui muito fâ de Dallas pois , apesar de ser uma grande e rica cidade texana, assim como Houston,  ao contrário desta última ( que realmente é um tipo de “São Paulo, na sua melhor  versão de Primeiro Mundo..." ) ,  Dallas sempre me pareceu uma cidade meio caricata, com suas típicas  cowgirls  boazudas  , loirésimas e breguésimas ( bem ao  estilo Dolly Parton…), desfilando do alto de suas botas caríssimas e ultra caipiras!

O que eu não sabia é que a cidade  também era  super racista e que (mal) trata e persegue  os imigrantes  mexicanos -  até mesmo aqueles que são residentes legais,  com cidadania Americana  e instruídos -  assim como minha colega  E.

Acontece  que a moça tem a aparência realmente 100% hispânica, sendo bem escura de pele e de cabelos negros ( muito fartos e bonitos, por sinal…).  Mais:  tendo sido casada com um Americano bem ‘anglo’ ,  sua filha , hoje com 12 anos, saiu bem branquinha.  

Daí que , entre algumas das barbaridades que  E. me contou no almoço de ontem,  há 1)  o quanto ela foi  perseguida quando morava em Dallas, tendo sido várias vezes seguida por policiais nas ruas sem qualquer razão;  2) no bairro bom onde morava com o marido ( que é  advogado) em Dallas,  várias vezes,  ao andar pelas ruas,  ela ouviu Americanos brancos fazerem comentários críticos sobre sua pessoa e desaprovando  quando via o casal junto .  E 3) , o pior:   muitas vezes quando saía com a filha para passear,  as  pessoas lhe perguntavam se ela era a babá da garota !

Eu,  a medida que ia ouvindo,  meu queixo ia caindo e os cabelos ficando em pé. 

O que? – pensei .   Como isto é possível em 2013,  mesmo neste sul caipira e atrasado dos E.U.??  Ainda mais em um  grande centro urbano como Dallas! 

Mas se você, leitor,  pensa que  isto é um problema ‘tipicamente americano’  está enganado/a.   

No ano passado,  E. seguiu com um grupo de alunos da universidade  para um intercambio no norte de  Portugal . Antes de partir, foi advertida por mais de um colega que já tinha ido lá para  que  “não andasse  sozinha pelas ruas  pois, com sua pele morena escura,  poderia ser confundida com uma prostituta e receber alguma proposta indecente…’.   Que tal?

Ali eu a interrompi  e lhe disse que nunca tinha ouvido coisa parecida quando morei em  Lisboa, até porque me lembrava da cidade ter muitos imigrantes de origem Africana, principalmente de Angola e Moçambique.

 

-Vai ver que no norte do país é diferente…- foi o que E. me respondeu.

 

No final,  perguntei-lhe  se aqui em Austin ela tambem havia sofrido algum tipo de preconceito por ser Mexicana e ter a pele escura .  Para meu alívio  , ela me disse que não,  e assim confirmou o  que eu  já sabia sobre a capital do Texas : que aqui estamos numa espécie de oásis, isolados e ao mesmo tempo  rodeados de um  enorme  deseeerto , chamado TEXAS,   tanto do  ponto de vista  físico quanto cultural.

 

Conclusão:   Austin pode não ser nenhuma Paris ou Monte Carlo da vida, mas pelo menos é uma cidade livre de  preconceitos  e racismo em sua forma mais gritante.  Aqui todos têm a sua voz e o seu lugar por direito na sociedade,  sejam eles gays, latinos, hispânicos, negros, , deficientes,   moradores de trailers ou até mesmo republicanos bitolados.

Austin realmente é a “São Francisco” do Sul dos E.U.  – sem o mar e sem o Napa Valley,   é verdade , mas também sem terremotos! {#emotions_dlg.smile}

 

De minha parte,  eu aqui no meu velho espírito justiceiro,  não consigo deixar de ficar revoltada  ao pensar que tantas pessoas  decentes, instruídas e de bem, continuam sendo  discriminadas  em pleno Século XXI unicamente  pela cor de sua pele ou por causa do lugar onde nasceram. ( Como se pudéssemos escolher!)   Outras, contudo,    verdadeiros LIXOS HUMANOS ( de alma podre, , espírito de porco, atitude revoltante  e histórico de vida escabroso...)   não sofrem o mesmo tipo de preconceito simplesmente porque nasceram com a pele mais branca e os olhos mais claros. 

 

 Isto me lembra a segunda vez que fui à França, em 89, vinda do Brasil.  Estava muito elegante  com meu casaco de pele de carneiro , de  salto alto e maquiada... Mas o raio do "verdinho" (o passaporte brasileiro na época )estragou tudo: na hora de passar na imigração fui humilhada com dezenas de perguntas estúpidas e insolentes, enquanto que na minha frente,  um suíço bem ripongo, imundo e com o cabelo visivelmente piolhento passou tranquilamente sem que lhe fizessem uma única pergunta! (É por isso que hoje eu amo de paixão meu passaporte americano {#emotions_dlg.smile}: pode até  ter gente que não gosta dos yankees, mas ao menos eles os respeitam! ). 

 

 

Anyway,  minha colega disse que nunca mais voltaria para Dallas, nem que lhe pagassem.

Foi aí que pensei que a  justiça  às vezes tarda, mas não falha  No seu caso, por exemplo, ela veio em forma de um fellowship  (bolsa de estudos  com ajuda financeira) para estudar na U.T. de Austin – alias,  a melhor e mais conceituada universidade do Texas. 

 Dallas,  you may very well go to hell!  {#emotions_dlg.evil}