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Parada Essencial

Benvindos ao "Diário politicamente incorreto da Pâmelli" - uma brasileira/americana childfree, residente nos E.U.A. desde 2003 Viagens, cultura, desabafos e muito mais!

Parada Essencial

Benvindos ao "Diário politicamente incorreto da Pâmelli" - uma brasileira/americana childfree, residente nos E.U.A. desde 2003 Viagens, cultura, desabafos e muito mais!

A implicância com os cariocas

Pâmelli, 29.04.08

 

É duro ser carioca.

Como se não bastassem todos os infortúnios que o povo do Rio de Janeiro  já passa diariamente -  a violência ,  o trânsito horroroso,  a  epidemia de dengue...-  ainda por cima temos de conviver com a implicância e o preconceito dentro de nosso próprio país!

 

Antigamente a pinimba era só com os paulistas , que gostavam de dizer que os cariocas eram 'vagabundos' e que não gostavam de trabalhar...  Uma grande injustiça,  diga-se de passagem ,  pois depois dos próprios paulistas,  ninguem  no Brasil trabalha mais do que os cariocas.   Aliás,  não é porque o povo do Rio  ' vive na praia e coçando o saco o dia inteiro...',  que  sua  cidade  é a  SEGUNDA  principal  economia do país -   em indústria, PIB , comércio etc...etc...  Sem  falar no maior centro turístico do Brasil ! ( Sim,  apesar dos pesares,  o Rio AINDA é a cidade mais visitada  pelos turistas...) 

Mas o fato é que a implicância generalizada com o carioca é real e muito tangível.

 

Existem ,  ao meu ver,  basicamente  duas razões para isso. 

A primeira é um certo complexo e inveja por parte dos brasileiros  das outras cidades e regiões  ;  a segunda  é um  verdadeiro  'desprezo'   pelo povo carioca e seu estilo de vida.

 

O complexo e a inveja vêm do fato de que ,  ao contrário das outras cidades no país, o Rio  É a mais conhecida e a única que realmente é famosa fora do Brasil.  ( É bem verdade que nestas útimas 3 décadas a maior parte da publicidade que a cidade recebe na mídia é negativa , mas ainda assim...Como diria  o velho Oscar Wilde:  "  Só tem uma coisa na vida pior do que falarem mal de você.  É simplesmente NÃO falarem de você! "  :-))  ( There is only one thing in the world worse than being talked about, and that is NOT being talked about.) 

Mesmo a pessoa menos viajada  e mais ignorante do mundo já ouviu falar do Rio de Janeiro e sabe que a cidade fica no Brasil.  ( ou pelo menos acha que é na Argentina...:-)))   O mesmo já não se pode dizer de nenhuma outra cidade  do Brasil  -  seja ela turística,  histórica,   chique e 'européia' , rica ou ' cidade modelo'  ...  Quem na Indosésia,  na Irlanda , no Texas, ou na Espanha  alguma vez já ouviu falar em Ouro Preto?  Em Salvador?  Em  Blumenau, Curitiba ou Porto Alegre? Já o Rio  todo o mundo 'conhece'  ou pelo menos já  viu alguma foto do Cristo Redentor,  reconhece a melodia de  'Garota de Ipanema' ou  ,na pior das hipóteses,  assistiu  à algum noticiário escabroso sobre turistas sendo assaltados em Copacabana ou balas perdidas em alguma favela da cidade !  ' Seja como fôr,  o Rio,  de uma maneira ou de outra ,  volta e meia aparece nas manchetes dos principais jornais do mundo e isso é algo que  deixa muita  gente  no país ( pasmem! ) invejosa e complexada!

 

Existe ainda um outro detalhe,  que atualmente poucas pessoas se lembram , mas que é fato histórico e inegável :    o Rio é a ÚNICA cidade no Brasil inteiro que , um dia ,  há muitos anos atrás,  teve um passado glorioso! 

Sim,  estou falando da década de 50 e do começo dos anos 60...  - tambem conhecida como os 'Anos Dourados'  da história do Brasil e , especificamente da capital carioca -  que aliás, na época,  era tambem a capital do Brasil. 

 Viver no tempo de JK no Rio de Janeiro foi um privilégio. 

A capital  era linda,  despoluída,  glamorosa e praticamente sem violência.  ( Talvez existissem  apenas duas ou três pequenas favelas na cidade então , e assim mesmo,  eram longe dos bairros bons da Zona Sul;  além do mais,  naquela época não existiam as gangues de tráfico de drogas atualmente com os seus 'quartéis generais'  sediados nos morros cariocas...)

Foi no Rio que surgiu a Bossa Nova. Aliás,  não  foi a toa que , naquela época , Tom Jobim conseguiu fazer algumas das músicas mais lindas cantando as belezas e o charme daquela cidade à beira mar, pois mesmo com todo o seu inegável talento,  fosse hoje em dia ,  o compositor dificilmente  teria tido a mesma inspiração...

O célebre Copacabana Palace então recebia hóspedes com os seguintes nomes:  Marlene Dietrich, Ava Gardner, Sammy Davis Jr,  Gina Lollobrigida,  Alain Delon,  Brigitte Bardot,  Kim Novak,  Gene Kelly,  Romy Schneider ,  Rudolph Nureyev e por aí afora... Afinal,  quem era ALGUEM  no mundo,  nas décadas  de 50 e 60 ,  viajava para Paris, Roma , Nova Iorque ...E  tambem para o  Rio de Janeiro!

 É claro que tudo isso mudou e agora faz parte do passado.  Mas é um passado de glamour , de história,   de charme  e fascinação -  uma coisa que nos 500 anos de história de Brasil ,  até os dias de hoje,  APENAS  a cidade do Rio de Janeiro conseguiu gozar .    Isto é outra  coisa que  tambem incomoda muita gente. ...

 

Por fim,  existe o desprezo genuíno por parte de muita gente .

Muitos brasileiros  desaprovam a maneira de ser do carioca e gostam de generalizar dizendo que as pessoas do Rio são TODAS  fúteis, superficiais, narcisistas, desonestas e vulgares.   Que os homens são 'vagabundos'  e que as mulheres são todas umas 'galinhas' ... Até nas novelas da televisão brasileira o retrato  pintado da sociedade carioca   não é muito diferente.

 

Alguns anos atrás,  quando dava aulas de inglês em plataformas de petróleo,  costumava ir à Vitória , no estado do Espírito Santo , de quinze am quinze dias.  Certa vez tivemos de ficar alguns dias on-shore ( ou seja:  em terra  ) pois estávamos participando de um curso sobre 'Meio Ambiente'.    Então uma tarde resolvi dar um pulo até o shopping local . 

 Quando voltei,  comentei com minha colega ( a operadora de rádio da plataforma, que tambem era carioca...) ,  que  'não tinha achado o povo capixaba muito simpático...'  

 

-É verdade.   -  respondeu ela.   -   E quando eles vêem que somos cariocas ,  aí é que fecham a cara ainda mais !   

 

Claro que o meu sotaque havia me denunciado.  Afinal o  modo de falar  carioca é bem característico :  somos praticamente o único povo no Brasil que tem o 'chiado' dos portugueses,  além do RR forte dos franceses...  ( E  verdade seja dita, - e não digo isso por parcialidade mas como professora e estudiosa de línguas....- ,  quando não é excessivamente carregado ,  o jeito de falar do Rio  é , sem dúvida , o mais charmoso de todo o país .  Não sou apenas eu que acho,  mas várias pessoas com quem já conversei ,  inclusive vários estrangeiros que estudam português  ( do Brasil) aqui na América.

 

 

Mas , voltando ao assunto da implicância e só para citar mais um exemplo:

Outro dia meu marido estava em um outlet mall aqui da cidade  e ouviu alguns rapazes falando português na loja.  Estavam vestidos de policiais em treinamento pela SWAT e fazendo várias compras antes de voltarem ao Brasil.

Depois de conversar um pouco com um deles na fila do caixa e comentar que era casado com uma brasileira,  o rapaz resolveu  lhe apresentar   alguns de seus colegas.

 

-Aquele alí é do Rio Grande do Sul... O outro é  de Minas Gerais.   -  E completou:  -  Esse aqui é o Fulano ,  que  é carioca.  Mas ele é gente boa... 

 

Que tal?  É como se,  depois de afirmar que alguem é carioca,  ( um amigo, parente ou colega...)   seja preciso justificar e  completar dizendo   :    "Mas ,  tudo bem.  Esse aqui,  por acaso ,  não é pilantra...) !

 Quando chegou em casa aquele dia,  meu marido me disse entre  meio divertido e surpreso:

 

"Bem que você me disse que os brasileiros não gostam dos cariocas..."

 

***

 

Alguns dias atrás , estou eu na academia malhando ao lado de meu colega  de 'stair master' Jerry que,  ao se despedir de mim,   disse: 

 

"Boa viagem e divirta-se!"

 

Ao seguir  em direção à sala de alongamento para terminar minha série,  ouvi quando uma outra colega perguntou ao meu amigo:

 

-Para onde ela vai?

 

-Vai passar a semana da Páscoa em casa  ( at home),  com a família  no Rio...

 

Dois minutos depois ,  quando já estou me alongando na salinha ao lado, de repente entra uma moça de uns  trinta anos,  americana,  loira e muito atraente.   Imediatamente ela me pergunta:

 

-Você é do Rio? 

 

Meio surpresa eu respondo:

 

-Sou sim...

 

-Ah!  Meu marido e eu estivemos lá no ano passado para ver o espetáculo do Carnaval.

 

Pronto.    Lá vem bomba  !  -  pensei.  -  A mulher agora vai me dizer que os dois foram assaltados em plena Praia de  Ipanema...

 

Mas , para a minha surpresa ela continuou assim :

 

- Adoramos  o Rio e o povo lá.   Todos foram tão simpáticos  e gentis conosco.  ( Imagino que isto não deva acontecer todo dia na vida de turistas americanos viajando para o exterior ,  ainda mais nesta  era , da política externa Bush...)   Tivemos umas férias maravilhosas! 

 

Ufa.   Pelo menos isso. -  pensei,  respirando aliviada.   Então respondi: 

 

-Fico contente em saber que vocês tiveram umas férias tão boas por lá... 

 

Naquele momento eu senti que nem tudo no Rio  está  totalmente perdido.

Ainda restou alguma coisa de bom. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O gato em minha vida

Pâmelli, 26.04.08

 

 

Desde que me lembro ,  eu sempre preferi os cachorros aos gatos.

Sempre achei que os gatos eram meio 'frios' ,  sem graça,  esquivos e meio anti-sociais.

Quando criança,  tive mais de um cachorro -  mas nenhum que tivesse me marcado especialmente.  Então em 1996,  quando morava em uma pequena cidade no interior de Minas Gerais,  eu encontrei aquela que viria a se tornar minha 'filha' durante 11 anos.  Uma cadelinha vira-lata , com apenas dois meses de vida,  que encontrei um dia debaixo de um carro em uma das ruas da cidade.

Batizei-a como  'Atlanta'  ( inspirada nos Jogos Olímpicos de Atlanta, que estavam acontecendo naquele mês... - NADA a ver!   Para nós  , em casa,  simplesmente  Gubi ( guiubi) , ou Gubinha .  Foi o amor de minha vida.  ( Um dia , quem sabe,  escreverei um post inteiro sobre ela...)

 

Então,  quando tinha cerca de 10 anos e os primeiros sinais do tumor em seu pescoço começaram a aparecer ( na verdade , um ano antes dela nos deixar de vez...) , em uma certa manhã  fria e de geada , ao acordar,  eu e meu marido percebemos que 'algo' havia entrado,  durante a noite , em nosso jardim .  Este 'algo'   se encontrava dormindo ,  todo embolado,  dentro da casa de Gubinha lá fora. Era um pequeno gato cinza,  de cerca de uns três meses.

Isso foi em novembro , do ano de 2006.

 

O gato no começo era muito amedrontado , mas com o passar dos dias,  vendo que o estávamos alimentando,  aos poucos foi se chegando.  Duas semanas depois ele já 'fazia contato com a Gubi'  , através das portas de vidro que separam nosso quarto e sala de T.V. , do jardim de fora.  Logo ficou claro que ele desejava se juntar a família e passar a fazer parte dela tambem.

Finalmente , após um mês de contato 'vigiado' através do vidro,  os dois finalmente puderam se encontrar 'ao vivo' .   E assim  os dois passaram a se tolerar muito bem , numa espécie de relação de 'cohabitação'  -  sempre temperado com um pouco de ciúme  por parte do cão ( já veterano naquela casa e família...) e um certo 'respeito'  por parte do gato.

 

Naquela época ,  embora visse com uma certa apreensão aquela bola que a cada mês parecia crescer mais e mais no pescoço de nossa querida Gubinha,  não nos passava pela cabeça que menos de um ano depois ela iria nos deixar para sempre.  Sendo assim,  e pensando que 'gato nunca tinha sido a nossa praia...' ,  tentamos encontrar alguem que se interessasse em adotar a  pequena criatura.

Conversamos com um casal amigo que nos disse ter  dois amigos   ( um casal gay...) , segundo eles  ' apaixonados por gatos e já com larga experiência com felinos...'  que andavam justamente procurando um novo  gatinho  para adotar. 

Perfeito! -  pensamos.  Um casal gay,  apaixonado por gatos,  com larga experiência...( e de quebra sem crianças para infernizar o  bichano...).

Marcamos um dia para eles virem buscar o  felino.  Providenciamos para que levassem sua cama,  ração, brinquedos...etc...  Até arrumamos uma mini-jaula ,  ideal para transportar bichos. Aquele parecia ser  o momento ideal  para nos livrarmos dele ( aliás, DELA !)  :  ainda não tínhamos lhe dado um nome e fazia poucas semanas que estava vivendo conosco.  Era a hora certa , antes de  começarmos a nos apegar ao bicho.

 

O 'casal' veio .  Achou o gatinho bonitinho -  apenas  um pouco esquivo pois assim que eles entraram em seu quarto , o bichinho se escondeu debaixo do sofá,  apavorado.  Apesar de tudo ,  levaram-no.

 

Alívio .  Missão cumprida.  O gato agora tinha um novo lar.  Seria bem cuidado e tudo lá em casa voltaria a ser como antes.  Gubinha voltava a ser nossa  filha única.

 Pois não é que apenas 2 dias depois o casal resolve nos devolver o gato!!

Disseram que o bichinho era anti-social;  que  só ficava escondido  debaixo do sofá e ' não gostava de gente...' Pediram para trazê-lo de volta....

 Fazer o quê?  O gato voltou.

 

Naquele momento eu soube que DEUS quis nos  mandar aquele  'presente' .  De uma certa forma  , Ele  já estava  nos  preparando para a perda que teríamos  no ano seguinte...

Afinal,  quais eram as chances de eu encontrar novamente um cachorrinho abandonado nas ruas , morando em  uma cidade grande em plena  América?  Mesmo no Brasil,  hoje em dia , isso  só acontece nas cidades do interior pois nas grandes metrópolis,  a 'carrocinha'  não deixa qualquer cachorro andando solto  por aí.  (Crianças abandonadas pelas ruas ,   tudo bem.  Cachorros não.  Isto é o Brasil...  ) 

Por outro lado,  sempre tive claro em minha mente que não pretendia comprar um cão de raça,  vendido em alguma loja ou canil especializado.  Se tivesse de ter  novamente outro bicho , teria que ser  , no mínimo, um adotado de um abrigo.  Um outro 'resgatado da vida'...

Então,  quais as chance de um gatinho orfão , dar um jeito de entrar pelo nosso jardim ( cercado) ,  e  ir se instalar na casa de nosso cachorro ?  Com tantas casas na redondeza,  por que logo na NOSSA ?  E por que justo naquele momento de nossa vida ?

Finalmente,  como é que um gatinho tão jovem,  de pêlo cinza , com as patas brancas e os olhos verdes,  meigo e de bom gênio (  afinal, até com o cachorro da casa acabou se entendendo...) pode ter sido rejeitado por pessoas que supostamente - ao contrário de NÓS ! -  'sempre tiveram e adoravam gatos...' ;  além de estarem justamente a procura de um novo mascote  para sua casa?  

 

Sim,  hoje penso que  o destino dele era ficar  mesmo conosco e , de alguma forma,  preencher um pouco do enorme vazio que ficou em nossas vidas depois que nossa Gubinha se foi.

( Não houve clínica especializada em Oncologia canina na cidade que pôde salvá-la  e Deus acabou levando-a para junto de si , menos de um ano depois do  misterioso aparecimento  do gato em nossa casa.)

 

Afinal a gatinha   foi operada ( esterilizada) , ganhou uma coleira e medalha nova e foi finalmente batizada com o nome de Senninha ( pois é rápida e espoleta como só vendo) .

 Durante o dia eu abro a porta de vidro e ela passeia pelo jardim e sobe nas árvores,  ( em especial a que cobre  boa parte de  nosso telhado,  de onde ela tem uma vista 'panorâmica' das redondezas , de cima de  seu galho favorito...)   E , ao contrário do que os amigos de nossos amigos disseram:  ADORA  passar tempo junto das pessoas que cuidam dela!  Então,   é só eu abrir de novo a porta e chamá-la  pra dentro que ela vem correndo ,   louca para entrar dentro de casa novamente e se aconchegar no meu colo,  ronronando enquanto assistimos à  novela na hora do almoço.

 

Senninha agora é parte oficial e integrante de nossa família,  ( sim,  uma família 'childfree' , apenas com os dois adultos e seus  filhos peludos...:-)  

 Estou convencida  de que foi o 'destino' que fez com que ela aparecesse lá em casa naquela noite fria de novembro,  ainda filhote,  menos de um ano antes de nossa Gubinha nos deixar.   ( A verdade é que , fosse ela já um gato adulto ou mesmo um filhote 'de raça' , saído de algum canil ou loja de animais ...,  nós dificilmente  teríamos ficado com ela e  mais provavelmente a teríamos  'passado adiante'..)  

Penso que foi igualmente o  'destino' que fez com que ela parecesse 'anti-social'  para aquele  casal gay que chegou a levá-la para sua casa e depois se arrependeu. 

 Por fim,  para mim , há mais uma coisa que considero 'especial' neste gato:    o fato de que ele  CONHECEU pessoalmente e conviveu durante vários meses com nossa Gubinha  !  

 Desta forma,  cada vez que olho para  o felino,   me lembro  de nossa cadelinha  e sinto como se ela continuasse viva e ainda perto de nós.  Afinal , sempre que nos lembramos de nossos entes queridos ( que já se foram)  ,  estamos de certa forma mantendo-os vivos em nossos corações.

  

Às vezes,  é preciso saber ler nas entrelinhas para ver aquilo que o destino  parece estar  querendo nos mostrar.

Hoje,  as palavras de DESIDERATA  nunca me pareceram tão verdadeiras:

 

" Whether or not it is clear to you, the Universe is unfolding as it should..."

 

 

O ataque das calças de cintura baixa

Pâmelli, 22.04.08

 

Cá entre nós,  tem coisa mais feia do que estas calças de cintura baixa que se vêem a torto e a direito por aí??!

Sinceramente,  hoje em dia é praticamente impossível se comprar uma calça jeans em algum lugar do planeta , que não tenha aquela cintura baixa ( ou seja,  cintura NENHUMA!) ,  que deixa o corpo da mulher HORRORÍVEL  e com uma aparência  para além de vulgar.

É uma coisa completamente deselegante e anti-estética,  que desvaloriza  até o corpo mais bem feito e jovem.   E,  considerando que a grande maioria das mulheres está longe de se parecer com a Daniela Cicarelli... ,  eu realmente não entendo o por quê do  tamanho 'sucesso'  das tais calças. 

  Aliás,  de uns tempos pra cá,  a obesidade mórbida  ( que antigamente era a marca registrada da sociedade americana)  parece que passou a 'decorar'  e fazer parte natural da paisagem nos mais diversos  países e cidades por aí a fora.  Suponho que  isto seja mais uma das faces da  globalização ( americanização?) no mundo,  mas no caso da maldita calça ,  qual seria  a explicação para tamanha popularidade?   Existe uma?

 

Talvez,  considerando-se que hoje em dia a maioria da população nos centros urbanos seja composta por pessoas obesas,  inchadas , barrigudas e absolutamente SEM cintura,   ( graças ao estilo de vida moderno à la french friessnacks , internet e sedentarismo...)  a dita calça seja a solução ideal ( além de confortável...).   As grávidas ,  em especial , parecem ter uma atração toda especial   pelas 'cinturas baixas'  e por alguma razão devem achar que ficam muito  atraentes  com  suas MEGA  barrigas ( e o umbigo estufado pra fora...)  por cima delas.

Algumas mulheres ( não grávidas)   chegam ao ponto de usar  as tais calças  de modo que possam mostrar melhor  suas calcinhas ( geralmente do tipo fio-dental...) ;  estas,  claramente competindo com a tatuagem   ( que geralmente fica logo em cima ou ao lado) , para ver qual das duas fica mais exposta e visível ao público! 

   Outro dia  mesmo,  eu estava em uma loja de departamentos  e ao entrar na seção dos sapatos me deparei com uma criatura agachada  ,  supostamente escolhendo sapatos na prateleira de baixo , mas que de fato estava  mesmo   louca para mostrar  ao público as rendas cor-de-rosa de sua calcinha ao lado da borboleta que tinha tatuado nas nadegas... Afinal , um outro fenômeno da atualidade é o desejo e a necessidade de chamar a atenção para si mesmo ( são as attention whores ou 'piranhas por atenção' ...) -  ora,  se não dá para se destacar pela própria beleza e talento...então que pelo menos seja pela feiúra e vulgaridade! Passar despercebido no meio da multidão é que não dá...

  Por fim,  fiquei pensando nos estilistas modernos que parecem  todos conspirar para deixar as mulheres cada vez mais deselegantes - para não dizer esmolambadas!  ( Basta olhar as 'modelos'  de seus desfiles :  moças que  mais se parecem  com um bando de zumbis,  pálidas,  anoréxicas , cheias de olheiras ,cabelos desgrenhados e maquiagem de filme de terror ...) Ok,  na noite do Oscar podemos ver  algumas  exceções ( afinal são atrizes e não modelos...)  e alguns de seus  vestidos  são realmente glamorosos e femininos ,  mas  durante o resto do ano a coisa é bem diferente.

Mas,  voltando aos estilistas...Como a grande maioria é gay,  quem sabe isso tudo não é de propósito para deixar as mulheres cada vez menos atraentes para os HOMENS?!!

 Ou talvez este seja simplesmente o 'estilo' da modernidade.  Cabelos  absurdamente oxigenados de loiro,  peitos  hiperinflados , cheios de silicone e calças jeans de cintura baixa....   Eis o resumo do que é 'sexy' hoje em dia. 

Mas eu me pergunto, será que daqui a alguns anos as gerações futuras não  vão nos olhar com a mesma expressão irônica que muitos de nós usamos ,  hoje em dia , ao nos depararmos  com  " certas coisas"   que  fizeram a  moda e sucesso  no passado?

 

Enfim,  depois de ficar um ano inteiro sem comprar  um único par de jeans aqui na América  ,  pensei que ao voltar ao Brasil,  como faço todo o ano,  eu encontraria calças com a cintura no lugar .  Ledo engano!  Corri todas as principais lojas nos shoppings do Rio e lojas de Búzios  e NADA. 

 O jeito,  pelo visto,    vai ser continuar usando apenas saias e vestidos ou , quem sabe,  devo  tentar a sorte quando fôr novamente à Europa...

Para os amantes de Matisse

Pâmelli, 22.04.08

 

No fim-de-semana passado nós  estivemos na Costa Lesta americana visitando parentes.

Entre um jantar, uma reunião ou encontro 'familiar' , eu consegui dar uma escapulida até o centro de Baltimore e passar uma tarde no principal museu da cidade.

 

O BMA ( Baltimore Museum of Art) tem um prédio muito bonito,  que lembra  um pouco a National Galllery de Londres -  só que bem menor.  Seu acervo inclui obras dos principais artistas mundiais e ( surpresa!)  a maior coleção de obras de Matisse nos E.U. !

São cerca de 500 obras  do pintor francês -  entre pinturas e esculturas.  ( Na verdade não creio que tenha visto 500 obras do artista , mas imagino que algumas delas estejam emprestadas em algum museu para uma exposição temporária...).  De qualquer forma,  havia pelo menos umas 3 salas inteiras só com telas de Matisse;  todas lindas,  cheias de cenas da Côte d 'Azur,  em suas tonalidades tão 'fauve' ,  os interiores tão  exóticos e coloridos das casas,  suas famosas odaliscas...

A coleção foi formada pelas irmãs Etta e Claribel Cone , naturais de Baltimore e de família abastada, que nunca se casaram e adoravam colecionar objetos de arte.  (  Que sorte a nossa que elas nunca tiveram filhos , do contrário hoje tudo aquilo ou estaria em alguma casa particular da família,  ou teria sido vendido à algum milionário em leilão ! :-))

 

De quebra o museu ainda tem um ótimo restaurante (  O  "Gertrude's" ),  onde eu pude degustar das famosas 'crabcakes' locais ( os bolinhos de carne de siri que são a especialidade do estado de Maryland...) , com um bom vinho da Califórnia ,  ao som de música  americana , ao vivo ,  no   estilo  'Woody Allen' . 

Isso sem falar na lojinha do museu ...

 

É disso que eu gosto na Costa Leste:  Não é preciso estar em NY para experimentar  um pouco de cultura e sofisticação.  A cidade de Baltimore,  com o seu charmoso porto,  suas construções em tijolos tão 'inglesas' ,  seus museus e culinária local ... , definitivamente vale uma parada!

 

O traste e o furada...

Pâmelli, 16.04.08

 

Existem dois tipos de homens aos quais é bom se ficar atenta.  Um é o traste.  O outro é o furada.

Antigamente 'os trastes'  eram a expressão recorrente nos inventários para discriminar os bens existentes no interior das residências.  As cômodas, escrivaninhas,  oratórios etc..etc...

Hoje em dia o 'traste' é a expressão que usamos para designar aquele indivíduo ( geralmente um marido ou namorado...) que os americanos costumam descrever como o  couch potato ( o batata de sofá..)  ou o ball-and-chain husband/boyfriend  ( o presidiário com a bola de ferro acorrentada aos próprios pés...). 

Mais especificamente,  é aquele cara que passa a maior parte do tempo dentro de casa ,  sentado no sofá  diante da televisão,  com  o controle remoto em uma mão e uma latinha de cerveja na outra.

Ele vive desempregado ou , no máximo,  de vez em quando faz  um bico aqui e alí ...

Só sai de casa para ir ao cinema,  shopping ou praia arrastado (daí o nome em inglês de ball-and-chain...),  e resmungando.  Porém,  na véspera do seu aniversário,  Dia dos Namorados ou Natal ,  sempre arruma uma desculpa pra sumir de casa e só aparecer vários dias depois ( naturalmente com as mãos abanando...)

Costuma passar cantadas na vizinha boazuda da casa ao lado ( sempre que a mulher está  se matando de trabalhar na rua...) e tambem é bastante generoso com a gorgeta  (  com os trocados tirados da bolsa da própria mulher...) da mocinha que é entregadora de pizzas em casa.   Na cama,  tudo o que faz é rolar de um lado para o outro - cada vez que é acordado com o som do próprio ronco estrondoso. 

Por fim,   ele tem uma mãe que  vive de uma mísera aposentadoria e que  geralmente tambem passa o dia inteiro em casa ( normalmente de camisola e rolinhos no cabelo...) ,   e que , invariavelmente DETESTA a nora e  'morre de pena do pobre filho, que se casou com a megera...'

 

Já o furada ,  costuma ter uma vida mais 'ativa' .

A origem  da palavra,  aliás,  não é bem certa -  mas creio que tenha a ver com a idéia de um preservativo que na hora H falhou..." Ihhhhhhhhhh,  que furada!!"  ( Na melhor das hipóteses a mulher engravida sem querer;  na pior,  contrai uma doença sexualmente transmissível!)

Mas voltando ao furada...

Esse cara muitas vezes tem um bom emprego,  carro , casa própria e  pode até ser  bastante charmoso e interessante.  Costuma levá-la a bons restaurantes e volta e meia até ,  quem sabe,  à  Nova Iorque!  No campo sexual ele pode mesmo chegar a ser bem 'competente'  e nas datas importantes o sujeito  aparecerá com um presente ou chocolate decente.

O único problema é que ele não está realmente interessado em você -  pelo menos não a longo prazo.  E você sim...

Muitos 'furadas'  inclusive são casados ( com outras!),  portanto para ele,  você não passa de mais uma distração.  Um  affair passageiro.

 

E com isso o tempo vai passando... O prazo de validade da mulher vai vencendo e um belo dia ...BOOM!  -  você recebe  o chute do ano.   E com isso perde -se  anos e anos de juventude e, quem sabe,  a chance de  ter encontrado  um cara legal  e que realmente se importasse  com você.

Muitas  mulheres acabam ficando com o 'furada' durante ANOS,  sempre pensando que ele 'vai mudar' ,  ou  largar a esposa ou acabar se apaixonando por elas de verdade.

FURADA!  Quase sempre acabam  sozinhas e na rua da amargura.

 Algumas ao menos conseguem sair da relação com uma casa,  um carro ou emprego bom ( que na 'Época de Ouro' do relacionamento , conseguiram através dos contatos ou posição  privilegiada do 'furada' ...) 

 

Por fim,  existem os 'roubadas' ! 

Estes ,  como o nome já está dizendo,  são realmente o fim da picada.

Normalmente costumam passar vários dias do ano  na prisão ( geralmente nos fins-de-semana ou em datas comemorativas especiais como Dia dos Pais,  Ano Novo etc...) ;  lhe enchem de filhos que nunca  ajudarão a criar ou sustentar;  costumam espancar a mulher e dormir com sua melhor amiga ( ou com a irmã mais nova...) entre uma reconciliação e outra.   Os 'roubadas'  são verdadeiramente  hors-concours e uma mulher com mais de dois neurônios dificilmente entraria numa dessas   ( Ou entraria??)

 

Então meninas,  abram os olhos!   E,   se o seu marido/namorado/companheiro não se encaixa em nenhuma destas categorias , considere-se uma mulher de SORTE.

Você tirou a loteria esportiva e deve segurar o sujeito com unhas e dentes!

Cuide bem dele.  Faça-lhe umas comidinhas gostosas e massagens eróticas de vez em quando.  Tire os rolinhos  do cabelo antes dele chegar em casa.   E tente não reclamar demais.

Afinal,  daqui há alguns anos,  é capaz dos últimos exemplares dos não-furada,  não-traste e não-roubada   poderem ser  encontrados  apenas no Museu de História Natural -   ao lado dos   triceratops,  dos mamutes e dos Neandertais...

 

 

 

Reciprocidade ou burrice?

Pâmelli, 15.04.08

 

Sinceramente , esta estória do Brasil exigir visto dos americanos que querem visitar o país como turistas , é ridícula.

A desculpa patética que o governo  nos dá,  é  o tal  'princípio da reciprocidade...' ,  mas no fundo tudo isso  não passa de orgulho e complexo de POBRE!

 

Ora todo o mundo sabe que o segundo maior número de imigrantes ilegais na América vem do Brasil  (  o primeiro lugar ,  é óbvio,  fica com o México...) e que todos os dias,  milhares de brasileiros são presos e deportados da terra do Tio Sam .  Muitas pessoas,  fingindo se passar por turistas,  acabam mesmo é vindo para os E.U. para ficar.

É compreensível,  portanto, que a terra de George Bush ( arhggh!)   exija o visto de entrada para os brasileiros -com todas as suas exigências ( documentação necessária, entrevistas etc...etc...)

 

Já ,  o Brasil exigir o visto dos americanos é algo completamente ridículo e absurdo!

Com isso,  além do mico que pagamos ,  ainda saímos no prejuízo pois todos os anos MILHARES de turistas dos E.U. ,  ao saberem deste 'pequeno detalhe burocrático'  adicionado à todos os outros 'senões'  já conhecidos no que diz respeito à viajar para o 'Gigante do Sul' (  a violência,  a dengue,  a distância...) , simplesmente desistem e resolvem ( mais uma vez!)  passarem suas férias  no México.!

 

Afinal , para um povo que só tem em média 2 semanas de férias por ano e já se encontra,  ( geograficamente  falando...)  ,  super isolado do resto do mundo ..., o México ( logo alí na esquina...)  sempre foi uma boa opção.  Duas ou três horas de viagem aeréa  no máximo ,  e você já está lá-  na praia ,  comendo suas tortilhas com molho picante e , detalhe :  com TODAS AS PORTAS do país abertas e um sorriso no rosto para receber os felizes ( e ricos!) visitantes!

 

Pois cá entre nós,  ninguem é melhor turista do que o americano :  1)  por ser geralmente puritano ,  costuma já viajar com suas respectivas companheiras,  portanto não saem de casa a cata de 'sex turismo...' 2)  Adoram gastar dinheiro e fazer compras!  3) Costumam ser bem humorados e achar tudo ótimo  e 4)  Sempre voltam pra casa depois da viagem e adoram descrever os lugares e as experiências que passaram com os adjetivos mais apaixonados (  ' extraordinary!' ' awesome' !  'fantastic' !).  Tem coisa melhor para  a propaganda  de um  país do que isso??

Sem falar que ,  ao contrário dos europeus,  nunca resolvem fazer um 'tour' pelas favelas das cidades  -  o que já nos garante, MENOS turistas morrendo em meio à  tiroteios e balas perdidas... ( mais péssima publicidade para o país!)

 

Apesar de tudo isso,  os  otários brasileiros , se achando muito 'espertos'  e 'patriotas' ,   preferem torturar os gringos com pedidos absurdos de vistos ( e de uns tempos pra cá até   a tirada da 'impressão digital obrigatória' ,  mais uma vez sob o pretexto da ' reciprocidade'  ...-  é mole??! ) e burocracias inúteis.

Já para  os europeus,  que frequentemente não gastam dinheiro e muitos ainda vão ao Brasil única e exclusivamente a procura de 'sexo jovem e barato ' com prostitutas,  - muitas delas menor de idade!  - (  os alemães, italianos e espanhóis são os piores!!) ,   abrem-se todas as portas e não se exige nenhum documento além do passaporte .

  ( As únicas exceções ocorreram recentemente , depois de todo o 'barraco' e baixaria com os brasileiros  deportados  do aeroporto de Barajás , em Madrid...)  

 

Desde que estou aqui , nos E.U. (  e,  não-  eu não sou mais uma das ilegais...) já conheci não sei quantos americanos que ( só pode ser por falta de informação...) me disseram que 'gostariam muito de viajar ao Brasil...',  mas com a exigência do visto,  acabam  se desanimando e  viajando para um outro país na América Latina.   ( tambem,  para eles não tem muita diferença entre o Chile, o Brasil ou Honduras..:-)))

 

E enquanto isso o México é que se dá bem. 

 A última moda aqui agora é ir se casar lá e levar todos os amigos e parentes  junto!  ( É 'exótico' ,  perto,  barato e....descomplicado!). 

Aliás, no mês que vem,   vamos ao casamento de um colega de trabalho de meu marido,  em uma cidade perto de uma praia (  você adivinhou) -  no México!

 

Em novembro último,  quando fizemos um pequeno cruzeiro do porto de Galveston ( Texas) à Cozumel ( México) ,  houve  um coquetel  a bordo  somente  para informar os turistas americanos  sobre 'As melhores lojas e lugares para  se fazer compras na ilha ...' .

 

Tenho realmente que tirar o chapéu para os mexicanos. 

Apesar de todas as humilhações , perigos e dificuldades que passam ao tentar  cruzar o Rio Grande até à América..., quando chega na hora de ver o que é melhor para o seu país eles não pensam duas vezes. 

 "Que vengan los gringos! " (  com seus cartões de crédito e carteiras cheias de dólares!... )

 

Já para o Brasil ,  com sua diplomacia  míope e capenga , só posso dizer o seguinte:

 " Orgulho de pobre , gente,  é BURRICE ! "

 

 

 

A praia mais 'sexy' do mundo

Pâmelli, 13.04.08

 

 

Hoje resolvi escrever sobre um aspecto que considero positivo na sociedade brasileira.  Tem a ver com as praias,  os biquínis ( e sungas!) e a atitude em geral do brasileiro -  principalmente nas praias cariocas...

 

Esta semana , enquanto fazia o 'stair master' na academia e assistía à um pouco do Discovery Channel ao mesmo tempo...,  de repente surge uma reportagem sobre as 20 praias mais 'sexy' do globo.  Ipanema,  para a minha surpresa,  foi a número 1!

Digo,  'para a minha surpresa' , porque , ao contrário do que muita gente imagina,  no Brasil não se pratica o topless nas praias.  Ok,  se alguem REALMENTE quiser pesquisar e descobrir aonde se tem uma praia de nudismo ou pelo menos topless por lá ,  tenho certeza que com a ajuda de um bom guia  conseguirá encontrar algumas.  Mas , ao contrário da maioria das praias da Europa,  isto não é o normal. Nem no Rio.  Nem em Ipanema.

 

Na verdade não sei bem qual é a explicação para isso.  ( Puritanismo na cultura brasileira certamente  não é!) 

Talvez tenha a ver com a Igreja ,  que no Brasil ,  sempre dá um jeito de meter o bedelho onde não é chamada ...Mais provavelmente tem a ver com a atitude ,  frequentemente machista e desrespeitosa , do típico homem brasileiro mais 'casca grossa' .

 Alguem  ainda se lembra do que aconteceu com algumas mulheres 'mais liberadas' que tentaram lançar a moda do topless em Ipanema nos anos 80...??   As que tiveram mais 'sorte' levaram apenas umas cantadas  cafajestes ;  outras , por pouco não chegaram a ser linchadas!  Enfim,  o fato é que a onda não pegou...

 

Então,  como é que Ipanema agora me sai  'a praia mais sexy do mundo' ...-  quando por aí a fora  ( especialmente na Europa...) há milhares de praias cheias de gente desfilando não apenas topless mas , em alguns casos ,  " exatamente assim como veio ao mundo...'??

Bem,  pode-se argumentar que um biquíni pequenino ,  quase minúsculo,  de design 'arrojado e aerodinâmico..'   seja muito mais 'sexy' do que aquelas  'calças ENOOORMES'  ,  que deixam o traseiro quadrado e  que vemos muitas americanas ( e algumas européias) usando como parte de baixo do biquíni -  mesmo que por cima estejam muitas vezes  desnudas!  Afinal , o 'menos' , às vezes acaba sendo 'mais' ...

Contudo,  penso que a explicação no caso de Ipanema ter sido escolhida a praia mais sexy do mundo tem mais a ver  com a 'atitude ' das pessoas  no Rio  do que com qualquer outra coisa. 

 

O fato é que,  nas praias do Brasil vê-se de TUDO -  e não apenas gente bonita e malhada desfilando nas suas mini  sungas e biquínis coloridos:

Gente nova,  gente velha,  gente 'velhésima' ! Gente gorda ou  magérrima;  gente malhada e musculosa ou cheia de banha e pele flácida... 

Barrigudos caminhando  lado a lado dos 'tanquinhos' ... Senhoras há muito já passadas dos 50 e às vezes 60 ,  usando biquínis cavados, ou no mínimo ,  um maiô inteiro com corte mais 'ousado' . Senhores 'idosésimos' ,  desfilando em sunguinhas apertadas. 

 Pessoas até mesmo com deformidades físicas ou cicatrizes enormes  pelo corpo passeam  pela areia ,  jogam frescobol  e tomam  caipirinha no quiosque ao lado - todos vestidos apenas de seus minúsculos trajes de banho.  

  Todo o mundo está lá -  na  praia, no mar,  na areia, sobre a toalha se bronzeando...

 

Se existe um lugar que é verdadeiramente 'democrático' no Brasil ,  este lugar é a praia.

E o melhor da estória:  a menos que você seja tão branco como um cadáver saído da gaveta do morgue ou resolva  colocar uma daquelas 'ceroulas de gringo' ,   não vai chamar a atenção ou inspirar a desaprovação  ou comentário irônico de ninguem.   Pelo menos de nenhum carioca. 

 O resultado é que ,  como até mesmo as pessoas menos jovens e atraentes se sentem a vontade em colocar seu biquíni e ir à praia - o  que  dirá  da atitude dos gatos e gatas de Ipanema!

Ora o  brasileiro (  e mais especificamente a brasileira ...) já é naturalmente espevitado e  adora se exibir .  Como já diziam o Tom e o Vinícius  " ...moça do corpo dourado do sol de Ipanema,  o seu balançado ,  é mais que um poema ,  é a coisa mais linda que eu já vi passar...'

 Ao contrário dos europeus ,  sempre discretos  e com a  expressão séria,    mesmo quando estão topless  ou nus nas praias,  os brasileiros  têm o que os americanos gostam de chamar de  attiitude ! Junte a isso um 'derrière' durinho e arrebitado,  um abdômem de tanquinho e uma postura de bailarina ( afinal quase todo o mundo nas grandes cidades brasileiras malha...) e o resultado só pode ser a classificação como a  "Praia mais sexy do mundo" !

 

 Senso de humor e uma atitude positiva ( tem coisa mais sexy do que isso??)  :  eis a marca registrada do povo carioca - mesmo nestes tempos modernos tão cruéis com a cidade do Rio de Janeiro.

 Portanto,  mesmo que você não seja a Gisele Bundchen ou o Reinaldo Giannechini...Se não se importa com a dengue e nem com  a violência na cidade e  está decido  de qualquer forma  a conhecer aquela praia que um dia inspirou dois jovens cariocas a comporem a música mais tocada no mundo....  Ponha a sua sunga 'Speedo'  ou mini biquíni da 'Bumbum'  e  aproveite! 

 Afinal,  quando no Rio,  faça como os cariocas...

 

O insuportável ego do homem brasileiro

Pâmelli, 10.04.08

 

 

Há duas coisas que  eu sempre tive bem claro em minha mente,  desde que  me entendo por gente:  a primeira é que nunca  gostaria  de ter filhos humanos (  nota:    pequeninos 'com pêlo'  , sim ! )   ;  a segunda é  que se um dia viesse a me casar (  e eu nunca pensei que isto , assim como a idéia de procriar ,  devesse ser um 'must' na vida de qualquer indivíduo...) ,  haveria certamente de ser com um estrangeiro! 

No primeiro caso , minha escolha se deve ao fato de que:    1)   nunca tive desejo de ser mãe; 2) sempre gostei de minha libertade ; 3) tenho pavor de tudo o que se refere à gravidez ( desde as mudanças no aspecto físico até as transformações hormonais que ocorrem no corpo ( e mente) da muher,  finalmente culminando com a dor e o sofrimento do  parto em si! E de quebra,  5) consciência ecológica  ( pra quê contribuir com mais um  mini- consumidor  no mundo  se este  já tem mais de 6 bilhões de 'milagres humanos'  circulando e poluindo o planeta por aí  a fora ...?)

No segundo (  e é disso que pretendo escrever hoje ..:-) ,  o fato é que , depois de observar por algum tempo o comportamento dos homens NO BRASIL  ( nota:  não digo dos homens brasileiros que vivem no exterior...) , cheguei a conclusão que o melhor é ficar longe deles !

 

Na verdade os homens brasileiros são ótimos pais,  amigos,  irmãos,  até colegas de trabalho.

Existem suas exceções , é claro,  mas de um modo geral é assim. 

Eu mesma ,  ao longo de minha vida e trabalho no Brasil, tive vários colegas e alunos ótimos e conheço mais de um pai ou irmão bem bacana.

O que estraga tudo é o EGO ( e consequentemente a atitude deles)  quando entra mulher no meio.  Aí a baixaria come solta e , sim,   tudo isto tem muito a ver com a atitude das próprias mulheres . 

É fato que há muito mais mulheres do que homens no Brasil -  principalmente nos grandes centros urbanos e principais capitais do país.  Nestas cidades a mulherada anda literalmente 'matando cachorro a grito'  e a  consequencia é a vulgarização total nos modos,  nas roupas,  nas palavras  (vale tudo pra chamar a atenção dos machos!) ,  sem falar no descaramento e falta de ética (  'Fulano é casado?  Tem namorada? E daí?  Morto é que não está...') .

 

Hoje mesmo recebi um e-mail de minha mãe me dizendo que havia dado uma parada em uma banca de jornal e pegou uma revista comum,  ( não era Playboy ou coisa do tipo...) com uma mulher na capa  semi-nua  e em uma pose tão 'piranhuda' , que em qualquer outra parte do mundo a revista estaria lacrada!  E olhem que lá em casa nós estamos longe de sermos puritanos...

 

Outra coisa é a idade.  Está cada vez mais comum no Brasil uma mulher ser 20, 30 ou mais anos , mais nova que seu companheiro.  Ninguem se surpreende mais e se uma mulher tem apenas uns dez anos a menos que o marido, já é bom se preparar para entrar no 'death row' porque é só uma questão de tempo ( pouco tempo!)  até levar um chute no 'derrière'  em favor de uma outra mais nova.

 

Eu costumo dizer ao meu marido que se fosse nascer de novo e me perguntassem que sexo gostaria de ser,  não hesitaria em dizer 'do masculino!' ,  e se , de quebra,  pudesse escolher o lugar,  diria :  " No Rio de Janeiro , de preferência!'"  ( Ele não costuma achar isso muito engraçado,  até porque sabe que não estou falando da boca pra fora...:-))

  Pois a coisa mais fácil que tem é ser homem no Brasil.   Há mulheres de sobra.  Muitas.   Bonitas,  fogosas,  carentes,  solteiras, jovens.....e  fáceis demais!!  Sem falar que muitas,  apesar de todos este qualificativos,  ainda  são muito  pouco seletivas e  com baixíssima auto-estima!  O resultado é que os homens  estão 'deitando e rolando!' .

 

O fato é que todo ano quando volto ao Brasil e ao Rio levo um choque.

Nos bares,  nos teatros...vêem-se milhares de moças jovens, arrumadas e sozinhas  ( digo: acompanhadas somente das amigas...).  Quando acontece de eu avistar um casal ,  das duas uma:  ou é uma moça jovem e bonita com um sexagenário boa pinta;  ou é um casal jovem,  onde a namorada está toda arrumada e produzida , de salto alto, cabelo escovado e bem vestida , enquanto  que o namorado mais parece um pivete de rua ( de bermudas e sandálias havaianas -  quando não está com a barba por fazer ! )  E o pior da estória:  crente que está abafando e que  é o 'presente dos deuses' ,  caído  do céu para a 'pobre coitada' !

 

Uma amiga minha que se casou com um holandês e mora em Rotterdam há mais de 15 anos ,  já com três filhos ,  certa vez  me disse:

 

-Todo o ano nós voltamos ao Rio para ver minha família.  Sinto falta de um monte de coisas daqui, mas nunca penso em voltarmos definitivamente para o Brasil.  Na Holanda,  eu , com o meu cabelo escuro e encaracolado,  minha pele morena e minhas feições 'brasileiras' sou tida como 'exótica' e meu marido é considerado um homem de sorte por lá.  Sem falar que os oito anos que nos separam , lá representam algo à meu favor!  Já no Brasil,  sou apenas mais uma na multidão e meu marido,  que na Holanda é um tipo super comum,  aqui,  com seus cabelos loiros e olhos azuis é considerado 'um príncipe nórdico, lindo de morrer...'  Para o bem de nosso casamento e família,   Brasil,  somente nas férias !

 

Um professor italiano residente no Brasil,  alguns anos atrás me contou outra:

 

-Conheço um casal ,  ele italiano e ela brasileira,  que agora está morando aqui. 

Outro dia ela se queixou comigo pois disse que quando moravam na Itália ele era muito bom para ela e lhe tratava muito bem mas depois de morarem algum tempo aqui no Brasil,  passou a destratá-la e mudou radicalmente seu comportamento...Ela está muito chateada.

 

Por fim,  só lembrando de um outro episódio , mais recente...

 

Uma conhecida minha que  frequenta uma academia de ginástica bem badalada em um bairro nobre do Rio, outro dia  me contou que uma colega sua veio  lhe dizer que estava saindo com um carinha que  lhe disse o seguinte ( e ela narrou isto parecendo achar que o sujeito estava cheio de senso de  humor e razão...):

 

-Você sabe o que é o 'teste da praia' ?  -  perguntou ela  à minha amiga.

 

-Teste da praia??

 

-É.  Meu namorado me disse que antes de começar a sair com uma moça,  ela precisa primeiro passar no teste da praia...  O do biquini,  sabe?  Se não passar nele,  nada feito!

 

Minha amiga disse que sentiu o sangue lhe subir pelo rosto diante de tamanho desaforo -  e ainda por cima com o consentimento  e aprovação da própria namorada do 'elemento'!

 

-Ah é?  -  replicou ela , finalmente.   -  E ele?   Já passou no 'teste do banco' ?

 

-....

 

-Não?  Pois você deveria perguntar se ele por acaso tem uma Villa no Lago  de Como ,  como o George Clooney,  ou quem sabe , a conta bancária do Eike Batista.  Afinal,  pra ser tão exigente assim,  ele deve com certeza já ter passado no 'teste do banco'  !

 

-...

 

Depois de algum tempo digerindo aquela perspectiva tão inesperada,  a moça respondeu:

 

-Poxa,  até que você tem razão , né?

 

 

De minha parte,   penso que minha antiga amiga de Rotterdam  está certa.

Para o Brasil,  só levo o maridão mesmo de férias!!

 

 

 

O Roubo do MASP

Pâmelli, 07.04.08

 

Quando no final do ano passado eu lí sobre o roubo de duas obras de arte no Museu do Masp de São Paulo (  um Picasso e um Portinari) ,   fiquei surpresa apenas com o fato do episódio ter levado tanto tempo antes de acontecer.

Desde a primeira vez que tomei conhecimento de um  roubo de obras de arte em museus famosos pelo mundo , nos anos 80, ( na ocasião tratava-se do quadro de Monet  " Impressão Sol Nascente" , o qual  deu origem ao movimento Impressionista e que na ocasião foi surrupiado do Museu Marmottan em Paris... ) ,  eu sempre imaginei por que ninguem no Brasil até então havia pensado no Masp. Afinal  trata-se praticamente do único museu no  país de fama e prestígio internacional,  com um acervo de mais de 5 mil obras de arte desde a antiguidade clássica até a arte contemporânea.  Entre os estrangeiros encontram-se nada menos do que Rafael, Cézanne,  Monet,  Van Gogh,  Renoir e Picasso;  entre os brasileiros,  ninguem menos do que Portinari,  Anita Malfatti e Di Cavalcanti...

Sempre me pareceu que ,  se uma pessoa resolvesse cometer um crime de assalto,  ao invés de tentar invadir um banco ( onde normalmente já há um aparato de segurança muito bem montado , até porque assaltos em bancos no Brasil acontecem quase todos os dias ...) ,  deveriam seguir para um museu de primeira linha  onde , não apenas as pessoas raramente esperam que seja invadido por assaltantes...,  como pelo fato de que  uma única peça de um acervo famoso ( como no caso do Masp) já pode chegar aos milhões de dólares!

(Aparentemente o furto das duas telas de Picasso e Portinari levaram pouco mais de três minutos...)

 

O fato  é que o comentário irônico de Moisés Manuel de Lima ,  o ex-funcionário do Masp e a quem coube o planejamento da operação de furto no museu  ,  ao ser entrevistado na delegacia de S.P.  ,  não poderia ser mais verdadeiro:    "Brasileiro não tem cultura. Basta olhar a bilheteria do museu.  É muito pobre. '

 

Ora,  se não frequentam os museus e nem sequer sabem o que tem dentro do museu  de arte mais importante da América Latina e muito menos o valor astronômico de suas obras...como é que teriam a idéia de planejar um furto desses?

 

Poderia se dizer que dinheiro vivo ,  tirado diretamente do banco seja melhor.  Mas os riscos tambem são muito maiores -  sem falar no TEMPO necessário para se tirar uma quantia realmente volumosa do cofre de um banco durante um assalto.

Já com um Picasso ou Portinari...,  mesmo que não possam ser legitimamente vendidos pelo seu real valor,   há sempre a possibilidade de se conseguir uma quantia nada desprezível por uma de suas telas  em um dos mercados negros ou leilões clandestinos ao redor do mundo...

 

Mas voltando ao Masp...

Pessoalmente penso que aquele prédio horroroso em plena Avenida ( poluída, barulhenta, cheia de ônibus, mendigos  e passantes apressados...) Paulista é um acinte ao acervo magnífico daquele museu.  Talvez na época em que foi inaugurado fosse alguma coisa.  Hoje,  não passa de um prédio sem charme, desengonçado, mal frequentado  do lado de fora  e  deprimentemente vazio  por dentro.

Mas isto é o Brasil.   Para o Carnaval ,  convida-se o maior arquiteto do país para projetar o Sambódromo,  mas por que não  chamam  o Niemeyer novamente agora , para fazer um novo prédio para abrigar a coleção do Masp?!  E um ,de preferência , com um sistema de segurança bem avançado pois agora que o precedente foi aberto,  é só uma questão de tempo até um dos Monets ou Renoirs saírem  novamente de fininho do museu !

 

É triste a falta de cultura do povo brasileiro.

Não é a toa que o  'Abaporu,'  a obra mais importante do país , acabou sendo comprada pelo empresário argentino, Eduardo Costantini ,  dono do museu Malba de Buenos Aires . Isto,   depois que nenhum museu ou família de posses brasileira  se interessou em  adquirí-lo e desta forma garantir que  o quadro  permanecesse no Brasil...

 

Quando perguntado sobre o que faltava aos museus brasileiros,  o elegante milionário  ( aliás , casado com uma brasileira...) respondeu:

 "Falta capacidade de sedução.  Museu é como mulher:  não basta ter conteúdo, tem de ser bonita e saber seduzir.  Um museu em um prédio bonito, por exemplo,  tende a atrair mais visitantes..."

 

Os americanos há muito tempo que já sabem disso.  Que o digam o  museu Guggenheim  e o  Metropolitan de Nova Iorque...

Rio 2008 - ou a cidade do absurdo

Pâmelli, 06.04.08

 

Era 1992 quando decidi pela primeira vez deixar minha cidade natal -  o Rio de Janeiro.

Na época eu tinha vinte e poucos anos, morava com meus pais  em um belo e confortável apartamento em um dos bairros mais nobres da cidade,  tínhamos empregados,   dava aulas em uma das escolas de idiomas mais conhecidas e tinha vários alunos particulares.   Em suma:  tinha dinheiro no banco,  carro bom e roupas caras para passear, amigos com quem sair,  festas,  praia...  Enfim,  a  Cidade Maravilhosa aos meus pés ! 

 

O problema é que eu não aguentava mais um aspecto muito específico da vida do dia a dia no Rio de Janeiro -  a violência.  Já tinha sido assaltada pelo menos umas três vezes na rua;  vivia com os nervos a flor da pele cada vez que parava o carro em um sinal;  me sobressaltava  por qualquer coisa e mais de uma vez cheguei a emitir um grito de susto e pavor ao ser abordada por algum passante ou turista inocente na rua , que queria apenas me pedir uma informação...

Certa vez cheguei a abrir a porta  do carona e pular para fora  do carro  em pleno movimento , pouco antes deste parar  no sinal na Avenida Atlântica.  Eu tinha  percebido uma criatura de 'aspecto suspeito' nos abordar , evidentemente para nos assaltar.  Corri até o posto de polícia mais próximo para pedir ajuda e minha amiga , que conduzia o carro,  ao parar  no próximo sinal , realmente nos confirmou que havia sido ameaçada pela 'falsa pedinte'  mas que ,  no entanto,   havia arrancado e conseguido escapar a tempo!  ( Naquela época os assaltantes ainda não tinham o hábito de fuzilar os motoristas que , em um instinto de sobrevivência impensado,  ao serem abordados por eles  ,  pisavam no acelerador com toda a força...)

 

- Pamelli,    - disse -me minha amiga  mais tarde.  -  Você tem razão de deixar o Brasil.  Do que jeito que anda,  qualquer dia  desses vai acabar tendo um troço!

 

Aquele episódio acabou por me convencer.  Poucos meses depois,  avisei aos meus pais que iria  abandonar meu trabalho e os alunos particulares , vender meu carro e  comprar minha passagem para a Europa .

 

-Vou trabalhar como " au-pair " ( babysitter :  justo eu , que nunca tive o menor jeito com crianças!),  doméstica...qualquer coisa.  Se bobear me caso com  o primeiro  estrangeiro , só pra não precisar mais voltar para essa Selva de Pedra!

 

Fugi para Portugal.  Morei um ano em Lisboa e passei a trabalhar na Berlitz de lá.   ( Naquela época os brasileiros tinham direito de trabalhar legalmente por lá;  não creio que ainda seja assim hoje em dia...)

No final acabei partindo para a Alemanha -  para me casar.  ( Um casamento 'de verdade' e não por interesse de cidadania, mas que de qualquer forma, foi má idéia.)

O fato é que já naquela época eu achava que a cidade do Rio de Janeiro havia se tornado  'invivível'  !(  Me desculpe Aurélio...)

 

Hoje,  mais de quinze anos depois,  morando nos E.U. e no meu segundo casamento (  Bingo,  desta vez acertei!!) ,  meu marido e eu sempre voltamos ao Rio de férias , ao menos uma vez por ano.  Apesar de tudo é lá que estão minhas raízes,  minha mãe e alguns amigos antigos de infância.  Meu marido adora o Rio.  Eu ,  adoro a comida,  os serviços de salão (bons e baratos ,  ao contrário daqui...) ,  os garçons bem treinados,  os programas culturais (  Municipal?  Peças?  Shows de Bossa Nova?) e o que  ainda restou da antiga joie-de-vivre e  do bom humor carioca.    Apesar disto,  nunca ficamos na cidade mais do que alguns dias e logo partimos para Búzios a fim de poder realmente relaxar.  ( Lá eu chego mesmo a usar o solitário que ganhei de presente de noivado de meu marido,  que adoro,    e que nunca tiro do dedo aqui nos E.U...)

 

Mas o mais estranho são as estórias...Os comentários que ouço das pessoas cada ano quando voltamos.  Coisas que ,  em qualquer outra parte do mundo ( moderadamente civilizado...) seriam consideradas no mínimo 'absurdas' , mas que lá,  no velho Rio,  agora são tão parte da realidade  e do cotidiano das pessoas,  que são tidos como  coisas 'normais'.

 

Há um ano atras foi uma antiga amiga de escola que , agora,  professora no estabelecimento onde estudamos há mais de vinte anos (  uma escola muito exclusiva e cara em uma das áreas mais nobres da cidade...) -  veio me dizer que se sentia 'muito segura' trabalhando e tendo o seu filho agora estudando lá... Afinal,  sempre que a polícia resolve subir o morro (  há uma favela enorme apenas alguns metros da escola) e fazer alguma 'operação' por lá,  eles  avisam  os professores e funcionários com antecedência.  Então  o pessoal manda as crianças ficarem somente na parte interna da escola ,  nas salas de aula ,  que tem vidro blindado.... '  

 

Tudo ótimo , pelo visto.  ( Na nossa época a favela já existia  mas nunca houve casos de tiroteio nem remotamente perto da escola e  as salas certamente não tinham vidros blindados...!)

 

Meu primo é um médico famoso que só anda de carro blindado.  ( normal)

 

Neste ano,  durante nossa última visita à cidade,   ao encontrar uma outra velha amiga para jantar , o que ouço é o seguinte:

 

-  Sabe,  estou saindo com um cara gatérrimo de 55 anos.   ( gatérrimo, com 55 anos? Minha amiga tem 42 e é uma bela moça  ,  com aparência bem jovem tanto de corpo quanto de rosto...) Ele escreve para um jornal local.  O problema é que tá ASSIM  ( gesto de mão designando um montão de gente...) de mulher atrás dele!! 

 

Que coisa deprimente!  - pensei.  Além da catástrofe social ,  o Rio de Janeiro agora sofre tambem da catástrofe demográfica.  Há mulheres demais e homens de menos nesta cidade!  Qual seria a outra explicação para  uma moça bonita,  bem sucedida,  solteira e pelo menos 13 anos mais jovem do que 'um mero escritorzinho de jornal,  com mais de  meio século de existência...'  estar tão insegura  e quase acreditar que 'tirou a loteria esportiva'  ao conseguir fisgar o tal reporter  da folha de domingo?!  Afinal  ,  que me conste,  não está se tratanto aqui de nenhum   Michael Douglas ou Donald Trump....pleaaaaaaaaaaaaase!

 

Por fim,  minha amiga completou me contando sobre um jantar que tivera com uma outra velha amiga nossa e seu marido que ,  segundo ela ,  agora estava 'super orgulhoso...' pelo fato de sua mulher ter posto silicone nos seios. 

 

-Eu nem havia notado nada mas ele fez questão de chamar minha atenção e perguntou se eu não havia notado nada de diferente na ...( nome de nossa amiga em comum).

 

Super orgulhoso??   Será que eu  de repente  fiquei velha demais?  Na minha época (  que aliás é a mesma delas...),  alguem costumava se orgulhar de um filho, amigo ou parente quando esta pessoa realizava alguma coisa de especial, ou quem sabe até de extraordinário!  Um prêmio na escola...Um espetáculo de dança...Uma promoção no trabalho...Quem sabe um livro publicado ou tese completada??  Mas colocar silicone no peito agora virou motivo para que um marido se orgulhe de sua mulher??!

 

A cada ano que se passa eu sinto que estou cada vez mais longe -  e não apenas em termos de distância física...-  da minha antiga realidade,  de minhas origens,  de minha cidade natal.

Meu marido e eu continuaremos voltando ao Rio de férias todos os anos , assim como fazemos religiosamente há cinco anos , desde que nos casamos.  Contudo,  eu sei que a cada ano e a cada nova visita que faremos à cidade eu terei um novo choque , de uma maneira ou de outra.

 

Me parece que o clássico   " Carta ao Tom 74"  , nunca foi tão verdadeiro e atual....  O Rio de 2008 é um Rio surreal.

 

 

 

 

 

 

 

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